Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Candeeiros, públicos apagados. A usual penumbra sobre os mais privados. Eu que o diga. Dissesse. Não digo. Como quem diz “Strange times, after all, are strange lands, neither more or less. And so this results in a new exoticism as in a romantic dream”, condensando duas frases do ensaio T.S. Eliot: The Pseudo-Believer.
Lê. Vê. O quê? Ouve nunca o diz-que-disse, eco do alheio dito. Quem tal diz não sou eu, claro quê-bê, nem o vizinho do rés-do-chão tão avesso a rimas quanto Manuel Gusmão, Luís Veiga Leitão, Fiama Hasse Pais Brandão.
Não. De mim ao longe, sempre ausente, nem um pio sobre o Presente. Anfiteatro há muito ido, quem o disse foi um reaccionário do piorio, o nada equilátero Wyndham Lewis, capítulo terceiro de Men Without Art, mil novecentos e trinta e quatro.
[…]
entro nas sílabas de cabeça triste
começa a vir para cima
a Primavera
neste papel palpitam
já nervuras
a flora aflora
e eu brinco na pobreza da caneta
com duas, três
e pouco mais ternuras.
no final de Dieta, Armando Silva Carvalho
(Lírica Consumível, 1965)
Avança-se com lentes
minúsculas nos dedos
revolvem-se as frases
que estão cada vez mais perto
e o luxo de haver almas
confunde-se no mar.
A cidade rumina,
mas são os filhos
quem vos empresta
ainda este sossego.
A Semana, Armando Silva Carvalho
(Lírica Consumível, 1965)
Um tórrido silêncio
rodeia em flor os braços
campo de amor – as ondas
sinal de vida – os passos
os mastros são lanças
memória que atravessa
os corpos das crianças
os corpos são tão barcos
cruéis pesos que inundam
os colchões amarelos
onde os olhos se afundam
tece na areia o sangue
doirada geometria
e o sol sugou pelos dedos
a vida da baía.
A Praia, Armando Silva Carvalho
(Lírica Consumível, 1965)
O mar invade Lisboa mas por dentro
enquanto o velho enfeita
as filhas dos polícias
e há um vago frio nos olhos
mais dementes
destas tardes.
As crianças vestem
coloridamente
seu mórbido e inesperado
séquito.
Mas nas ruas da Baixa
nota-se uma abundância
palpável
um rio vagamente doloroso
um mar por dentro.
Nas lojas de fazendas
na menina da caixa
no fastio amarfanhado
dos porteiros.
Gotas marítimas notavam-se
no brilho das pulseiras
de uma amante
líquido miúdo mas brilhante
até nas varizes das peixeiras.
Há quem diga do sol
um sol insólito é bem certo
mas nota-se até na cauda dos insectos
piedosas solícitas gotas de humi(l)dade.
O mar invade tudo mas por dentro.
A Inundação, Armando Silva Carvalho
(Lírica Consumível, 1965)
É oco o interior de alguns
quintais. O bailado surdo
e brusco das asas
da galinha.
A caleira podre aonde
chora um pingo
- o derradeiro.
É o mundo minúsculo
dos canteiros; a vida
nos degraus da planta; a sesta
de uma gata que por acaso
insiste em ser novelo.
É este chão cinzento.
A carne entumescida das paredes.
As espinhas reunidas
do que foi
um peixe.
E as armas toscas de matar
o tempo: colheres, comida,
insectos que tentam
(ao menos) um mundo
irrequieto.
É a noite que tem as mãos
suspensas sobre um alguidar
aonde bóia o dia
pequeno
de todas crianças.
Em certas casas constroem-se
filhos: a música suave
que se ouve nas camas.
Resíduos da canção
a única
que este povo
ainda sabe
e canta.
Os Resíduos do Campo, Armando Silva Carvalho
(Lírica Consumível, 1965)
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: