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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
É uma mensagem cultural / tal como a / do ARIEL / esse de facto / poderoso / reencarnado / no melhor detergente / e comprovei-o / diz Marta / que tem 42 anos / é doméstica / vive em Lisboa / e não se cansa de afirmar: // desde que uso / ARIEL / sou outra mulher // […] // televisão em estado puro // […] // Heitor em Paris / costuma seguir o programa / e acha positivo / uma pena só / não haver / cerveja SAGRES / por acaso / parece que é / SUPERBOCK // […] // claro que há lugares malditos / junto a cemitérios / ou pelo menos / lugares / onde se perdem coisas / à porta / dum convento abandonado / para não falar das banheiras / onde acabaram de tomar banho homens / e / ao crepúsculo / as mulheres que vão a seguir / podem engravidar / segundo os ensinamentos / do Padre Macedo / de Cinfães
quatro excertos de Ainda Há Muito para Fazer
Alberto Pimenta, 1998
Amigos e cerveja é a minha tarde. / A noite alinha-me os ossos. / Não fica, de tudo o que arde, / Mais do que uns tantos destroços. // Alguém pintaria a mesa: / Eu prefiro levantar-me. / A minha vida está presa / A outra espécie de charme.
Mesa de Café, Vitorino Nemésio, 15.8.1962
Um pouco de sol
Num nada de sal
Virgem na praia.
Azul seu raio a medo o olhar criou.
Tão redonda na onda arfa uma saia?
Foi ela ou o meu dizer que se afogou?
Virgem na praia, Vitorino Nemésio, 6.8.1962
[...] não recordo / se havia flores ou simplesmente / era a tarde, sem paisagem nenhuma // O que ainda sei é o teu vulto / emoldurado no sol - / e depois a casa / onde já não vive ninguém // Tantas casas desertas / e tantos rostos para sempre inencontráveis.
excerto de Elegia, Quase, de Pedro da Silveira
Espanta-me estar vivo em Lisboa neste ano cinco mil e tantos
por estes dias de ar claro disparado de mim para além do horizonte
numa teimosa reflexão da queda dos átomos Trago os papéis errados as fotos
silenciosas a sépia com demasiada chuva um caminho para norte
quando desdobro mapas é como desdobrasse a juventude
não a que passou mas a que esteve sempre no futuro da mala e chapéu
encolhendo os ombros aos sensatos avisos queda de neve previsível
incêndio desabamento súbito da realidade
o mais ligeiro átomo tem pelo menos quinze dimensões ou vinte o suficiente
para rir deste olhar que pousamos como venerados espectros
mal acabados de nascer e já pesarosos de uma memória navegante
nas coisas inúteis e veemente da terra animais folhas
completas de relva com lâminas barcos de seiva
acolho todos os antepassados não como património mas como herança minha
o primeiro a erguer as patas e colher o fruto já dele nasci ensinado
o primeiro a desenhar na pedra já com as suas mãos nasci
vou levantar a tampa dos infernos para ver o que vai lá por fora
ou cá por dentro se for caso disso
ainda sentindo na nuca o desábito de andar a pé
ainda misturando na boca a carne e as palavras
este chão com céu por cima é feito ao meu tamanho amo as suas estradas
de agosto quando chega ao termo a perfeição terrestre
talvez o destino tenha sido escrito mas estas palavras não
o pouco que avanço a largura do mundo
18, António Franco Alexandre
(Dos Jogos de Inverno, 1974)
Do meu nariz senhor
Meio provecta idade
Evito à noite cirandar
Reverso pela metade
Buscando tabaco saio
Um gelo de rachar partes
Lua nova noite morta
Resfriados apêndices
Ossos entranhas a tiritar
Assim não dá Senhor
Para findar versos talvez
E os sem abrigo caralho?
"Haikus para o Inverno que se avizinha"
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
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