Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Faking Jazz Together, Connan Mockasin, 2010-2012
também nos olhos cai a chuva, e nunca
mais cessará.
estão brancos os caminhos da floresta,
a água vegetal.
desenho sem pensar, o sopro
dos lábios
do outro lado da névoa,
as codornizes
oblíquas no ar,
com quem se esquece
dentro da areia líquida,
o fumo quase abstracto, o topo
aberto dos pinhais.
Setembro 2013
nenhuma arte, nenhum saber, memórias
nada na manga metálica dos olhos
nada no simples claro contratempo
nas palavras medidas pelo breve
indício do sentido.
venha comigo ver os nunca vistos
desastres do jamais acontecido
objectos, por ora, cintilantes
e vastos como cidades de além-terra, quando
o corpo em vão mastiga a dor e sangue.
inquira
a física do som e da visão
com passagem veloz pelo tormento.
nenhuma arte, veja, voz alguma.
em A Pequena Face,
António Franco Alexandre, 1983
Girl I Love You, versão de 2010 dos Massive Attack + Horace Andy para um "clássico" do "roots reggae" (Johnny Clarke, 1976)
Oh my silvery beard's
The whitest robe of yours
Cum’on, my dearest
“In this world after all
The words ain’t enough”
That's what you're sayin’?
Obviously not, I guess, but
Tout au naturel?! What’s
Your fuck, old man?
… Oh that's so neat
So it seems, I suppose
But if not, let me be
The best I’d do
Suppose it would
Though you won’t
And yet we still are
Enough it ain’t, we know
The worst, no less, lies in me
Fuck’em all, if so you wish
It seems the least, I guess
Brel, tu l'entends encore?
If not, let us all be
Wishin', a simple prayer
Yeah, still the best in me
Vila do Conde, Agosto 2013
Omlagus Garfungiloops, Coil, 1992 / The Reflecting Skin, Philip Ridley, 1990
Como eu sempre fugaz
Sombra de outra era
Nasceu quase morta
Vinte e um séculos após
A tarde que aí vem
Anda, hesita não, vem daí
Se perguntares por onde
Fica, eu já não caibo
Neste sofá, nessa tão
Plástica simplicidade
Acende velas, acredita
Podes sempre iludir-te
Esta terra nunca foi nossa
Esse pão acabado de cozer
Semente patrocinada apenas
Da Monsanto exclusiva
Ora foda-se é o que te digo
Pecando o mínimo, antes disso
Já nascemos velhos, convenhamos
O nosso fermento já não é virgem
Comprámo-lo no Pingo Doce
Fecha os olhos, cobre de vez
As varizes do mundo, veste
Flores de estufa, nem assim
No baldio mais próximo
Existem, ganham corpo
Osso ou caule, folhagem
Um frágil tutano que estoirou
Livros que já não ardem
Olhos que já não sabem chorar
Nas mãos bicicletas sem pernas
Ruidosos tubos, filmes sós
Um por cada, menos que zero
Compassos dois por três
Consorte três por quatro
Azar o nosso, maternidade
Trocada, já sem tempo
Polícias e ladrões em série
Planos quadros desertos
De jeito nem uma só
Cama, câmara, carripana
Veloz, em ânsias disperso
Navio fantasma, barcaça
Em velocidade de cruzeiro
Círculo perdido, encalhado
Bússola cega, gente doida
Deitada em cruz, distante
Oficina, tanto raio quebrado
Consertando os teus
Longe de mim andando
Vou, saberás tu porquê
Eu não, alguém talvez
Por vezes até parece
Mas não, ninguém
Espera por nós
Vila do Conde, Agosto 2013
em frio azul separas-te dos corpos
podes quase cessar como a vibrante
visitação da fala
jarras de gelo oscilam na celeste
maneiras de altos ramos
pesadas quebram na boca da água
em vão movo os sentidos as veredas
da cor rasgada no lençóis a chuva
os cobrirá de rendas
o sopro das cortinas
no vidro acendes lâmpadas, memórias
quase absortas de si no céu deserto
em A Pequena Face,
António Franco Alexandre, 1983
Bow Road, Alexandre Kassin + Domenico Lancelotti + Moreno Veloso = The +2's, 2006
por esse caminho vais dar a um ribeiro
oculto nas pedras, e daí são dois passos pró inferno!
fiquei surpreso com a informação, assim da cara nua
à saída de casa, pousando a mala azul já encharcada,
como se houvesse destinos nesta terra! encolho os ombros,
as borboletas mudam de cor, gigantescas, violeta castanho,
tudo é real e diferente de si, mesmo as anénomas
e o cheiro de morte que deitam por dentro. os planetas,
acredito, emitem pequenos sinais, mas tenuamente
deitam-se no ovo oco do céu,
e a grande chuva entra-me pelo corpo e fica
dentro a chover, coisa inútil, intensa.
foi assim que aprendi que os homens morrem aos pedaços,
e muito antes de eu nascer já esta torpe história seguia
«o seu rumo», aqui e além facilitado pela chacina militar,
e ninguém pedirá a minha opinião, que não é nenhuma.
o poema traz consigo um fresco calor escuro,
é um pouco cão, miserável e mudo.
os fios eléctricos atravessam a rua, lado a lado; o cigarro lançado
ao ar, explode contra as folhas.
dorme comigo, ribeiro seco.
deita-me na lisa pedra que te encerra. tudo começa
no cais de água nenhuma; um pouco cão, mais nada:
a arte do soneto e alguma rima.
1, António Franco Alexandre, 1993
rua leve, com o cartão das chamas separando
a tão nítida memória
de nenhum ar sobre as paredes lisas,
os edifícios, ou seria talvez
um resto de águas, de vísceras, de moles
razões medidas para durar,
o rosto submetido, com os poucos
saberes de um dia em que, subitamente,
as árvores do mar unânimes galgaram
a sombra dos segredos;
rua de dia sobre dia ardendo
lúcida, nua, quase completa de
janelas pequenas; e depois,
azul possivelmente, o mar.
em A Pequena Face,
António Franco Alexandre, 1983
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: