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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
O sol passava e repassava pelo céu, sem tomar uma decisão; o oeste e o leste haviam brincado aos quatro cantinhos com os seus dois outros camaradas, mas, por diversão, cada um ocupava agora uma posição diferente; ao longe, o sol não se apercebia disso. As pessoas aproveitavam a situação. Sós, as engrenagens dos relógios solares trabalhavam em sentido errado e desarranjavam-se umas após as outras, entre estalidos e gemidos sinistros; porém, a alegria da luz atenuava o horror dos ruídos.
num parágrafo de L’Automne à Pekin, Boris Vian, 1947
entre Santos e a Cruz Quebrada, Outubro 2013
No comboio descendente, Fernando Pessoa por José Afonso, em 1972
Amadis Dudu é, sem sombra de dúvida, um tipo horrível. Aborrece toda a gente e talvez acabe, no meio de tudo isto, por ser suprimido, visto que age de má-fé e é altivo, insolente e pretensioso. E, ainda por cima, homossexual. Já quase as todas as personagens estão nos seus lugares, daí resultando espécies de coisas várias. Antes de mais, a construção do caminho-de-ferro, o que vai dar imenso trabalho, por terem esquecido o balastro. Ora o balastro é uma coisa essencial e, portanto, não pode ser substituído por conchinhas de caracóis amarelos; de resto, ninguém propôs isso. Para já, a linha será montada sobre um travejamento e assim ficará suspensa, até que chegue o balastro e, então, o coloquem sob. Claro que é perfeitamente possível montar uma linha desse modo. No entanto, não era esta a história do balastro que eu previra, quando preveni que iria referir os calhaus que há no deserto. Haveria nisso implícita, decerto, uma espécie de grosseira representação simbólica, muito pouco intelectualizada, mas é bom de ver que uma atmosfera desértica, como esta, se vai tornando, à medida que o tempo passa, consideravelmente deprimente, sobretudo por causa daquele sol que nós sabemos, pleno de faixas escurecidas. Para terminar, lembro que deveria surgir uma nova personagem, Alfred Jabés, que conhece perfeitamente modelos reduzidos; porém, agora, já é demasiado tarde. O barco onde Cruque vem naufragará e, à sua chegada, tudo terá terminado. Por isso, só na passagem seguinte voltarei a referi-lo, ou talvez nem isso.
uma passagem em L’Automne à Pekin, Boris Vian, 1947
Grandes vagas cheias de espuma sucediam-se umas após as outras e o navio ia deslizando um tudo nada, mas no mau sentido, isto é, para trás, o que, por isso, não lhe aumentava a velocidade. Um vento fresco, saturado de icnêmon e iodo, infiltrava-se pelas sinuosidades auriculares do homem do leme, produzindo uma nota suave como o canto do maçarico e aparentada com o ré sustenido.
um parágrafo em L’Automne à Pekin, Boris Vian, 1947
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
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