Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
New Slang, The Shins (música: 2001 / vídeo: 2004)
There must be no distance
between the poet and his word
(Bakhtine, 1981: 297)
Bakhtine, que aliás parece lê-se
mal em russo, atira ao poeta
o rosto linguístico absoluto
contra flagrante evidência, e. g.,
o empréstimo cortês na poesia
antiga, toda a lírica de récita
e de canto. O grande dialogista
diga-se gostava era do romance
e seus rumores, cria a poesia
pouco sociável, senão egoísta,
olvidável, everything that enters...
must immerse itself in Lethe, and forget (idem)
tudo o que no poema entra mergulha
e a vida toda antes esquece, lembra
só a si... language may remember
only its life in poetic contexts (ibid.)
Há um tipo de poeta decerto
apostado em que a poesia invente
um mundo que o real não desmente
literal como ninguém. É Herberto,
exemplo maior da palavra-erecta-
-ardência. Não pode o tradutor ser
Herberto por isso é que Herberto
não traduz
muda
Herberto só devém.
Tradutores se poetas são outra
estirpe mais rasteira que prospera
em língua alheia no dizer de outrem
e tem por regra mais que um senhor.
Vivemos de não sermos singulares
mas servos dedicados afinal,
de ouvidos colados às paredes
de falares, requintado plural
de glossa, invisíveis vozes amos
nossos; nós instrumentos díssonos
fragmentos fáceis – nem
vasos, vácuos
de unicidade –
intermitentes veículos,
ventríloquos
de breve
validade.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. 1981 (1935-1941): The Dialogic Imagination: Four Essays.
(Trans. Michael Holquist and Caryl Emerson) Austin: University of Texas Press.
BARRENTO, João 1940 - .... Vida. Em curso.
BARRENTO, João. 1965-2011. Carreira académica.
BARRENTO, João. 1963 - ... Serviço de Tradução Literária. Forthcoming.
Pode um tradutor ser poeta?
(poema-ensaio para João Barrento)
de Margarida Vale de Gato
Um qualquer anúncio multinacional / "Moriyn Moriyn", Noir Désir, 2001
maybe he's caught in the legend
maybe he's caught in the mood
maybe these maps and legends
have been misunderstood
Michael Stipe
Sou, isto é, sinto-me deveras, ou seja, vou sendo
Um figurão, digo, um figurante de um western, melhor
Dizendo, de um western spaghetti, daqueles baratos
Rodados em cálidos desertos das mesetas peninsulares. Num
Deles acordo na periferia de um moinho quase sem grão
As velas giram por si sós, sem vento aparente
Sancho e Rocinante já há muito se foram. Sumiram
Soldo, ração, reconhecimento, alegaram
Foi justo, ninguém aqui soube governar, mas
Dói-me ainda a sua ausência. Faltam-me sementes, raízes
Sobram-me indiferenças gourmet, ageusias como a soja e tofus
Pós-modernos kits e gadgets, fajutos manuais de sobrevivência
À rejeição deste moinho que já quase não mói, enquanto
Dulcineia soa-me, parece-me feliz. Adora-me, como?
E ao calor do meu Suão, esse sopro ilusório: eu, eu
Eu já nem sei desejar que só por vezes chovesse
De quando em vez trovejassem criativos tumultos
Interruptas nuvens, águas nem que esporádicas
Velho jarreta, meio sonho, vertigem no resto
Devo ter esperado demasiado, talvez
Este moinho já pouco tenha para dar
Talvez, receio, já nem saiba receber
(3ª revisão / 1ª em Outubro de 2009)
And It's Alright, remistura de Nils Frahm de um original de Peter Broderick
[…] Estamos sempre imersos na mesma linguagem e nos mesmos gestos, condenados à repetição, sem palavras capazes de abrir o horizonte. Trata-se do discurso das tácticas: tácticas de gestão, tácticas de sobrevivência, tácticas de dissimulação, tácticas argumentativas. […]
António Guerreiro, 26.3.2011
Maps and Legends, R.E.M., em 1987 (perdoe-se o ruído publicitário incluso ; atenuante? procurei, sem êxito, a mesma música com uma imagem equivalente)
As I write this line it is in a foreign language.
As I think What does this mean? I remember a sentence
by the allegorical novelist who is said not to speak.
He was a linguist, and his wife is said to interrupt party conversations
by saying : "John has something to say." Can I say,
I oppose all civilization, without being in a city under siege,
without being a Trojan horse?
As I write these words,
the sentence I DO NOT SPEAK MY OWN LANGUAGE is in my head
like the line of an ascending aeroplane piercing through cloud.
But I must tell (who?) –
Beware of those bearing grief in comprehensible words.
Beware of your mouths.
Dark Horse, John Mateer, 2000
– [ ] a little in his hand, an involuntary
movement. Punch-drunk & frivolous,
making holes, delivering versions.
Having everything one needs inside
one bag that one carries, or
lugs. [ ] heated myself therein
& was very violent. Now they
understand – we’re the punchlines.
Depart from this area of
simulated passion now. The river
caught fire & gave us something
to read about. The tone generated
determines the co-ordinates of the search.
The [escaped & panicked
bird flies] splat [into five-volume
abridgement specially adapted for the
modern] reader. The promise
is OWN A MOVIE FOREVER & pretend
you’re the star [ & n]ot even the pathologist
knows for sure
in Pause Button, Kevin Davies, 2002
Tanto ou mais triste que um arménio filme bielorusso
Dos anos 60 ou 70 do século passado: foi, é ou será?
Sobreviver aos primeiros anos de vida, funcionando
Qual adulto, porque então era preciso, já então deduzindo
Os que viriam e vieram após, plenos de gritos e pinotes
Becos sem saída aparente, tão semelhantes aos meus
De então como agora, sem nunca conseguir repeti-los
Imagine-se, por desporto, um desses filmes meio francos
Algo gauleses, plenos de uma significância na revessa
Do imbecil, gringo costume, entretém que nos sufoca
Raras vão sendo as trocas, truques ou lembranças
Sombras dos meus anos primeiros. As mais nítidas?
Recluso de raras manhãs plenas de sol, estou numa delas
Num quintal a cheirar terra húmida, a prová-la logo após
Vizinha dessa imagem restou um gosto dúbio: o cheiro
Apreciei; o sabor nem por isso. Talvez fumo, cinza ou sobra
Excesso de mim, caminho ao longo do rio curvo, rumo ao mar
Pálido, visto uma blusa de felpo laranja. Desbotado, vou de balde
Azul, de pá amarela, escavo areias e descubro ruínas. Bolas, ninguém
Na praia pensei, e assim por diante muito cedo desistindo fui de brincar
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: