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por JQ, em 31.10.14

 

 

Panic in Babylon, Lee "Scratch" Perry, 2004

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por JQ, em 30.10.14

24.

[…]

De sofisma em sofisma as palavras constroem

o seu novo trapézio.

São os fusos da roca cibernética.

O desejo submete-se à teoria dos Quanta

afirmam enfermeiras que navegam, risonhas,

nos leitos destes rios.

Ouve, ouve as apóstrofes que se despenham

como uma cascata.

A barba hirsuta é um sinal dos tempos

e tu chegaste ao Colorado dos sentidos.

As canoas empinam-se como cavalos a quem

puxam as crinas.

É o desespero que sobe dos rodízios

amarelos do deserto.

E eis-te aqui na cauda dum poema

à espera do semáforo.

Os teus ouvidos respondem ao desgaste.

Aqui, na solidão dos nomes poeirentos

cantarás o prazer

sôbolos os rios (que) da Babilónia.

 

 

Armando Silva Carvalho

 (“Armas Brancas”, 1977)

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Sobre o tempo (enquanto pena, sentença ou condenação)

por JQ, em 28.10.14

[...] That's why you’ll always find me in the kitchen at parties

[...] She was into French cuisine but I ain't no Cordon Bleu

[...] We both walked out of the kitchen and danced in a new way

[... anyhow] I've done my time in the kitchen at parties

 

Jona Lewie, 1980

 

 

Scared to Dance, The Skids, 1979 (sabem que mais?: Richard Jobson + Stuart Adamson, um par de aves raras, que, nesse tempo como agora, momentos tão naturalmente avessos ao virtuosismo, souberam traduzir a electricidade de poucas guitarras, dedilhando a estática inerente ao malcheiroso futuro. Sabem que menos? O futuro e o lixo andam por aí de mãos dadas, felizes à solta, sufocando a esperança nos mais distraídos)

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"no Outono a natureza será sempre fácil..."

por JQ, em 28.10.14

27.

 

Também tu assististe a essas festas.

As desses cavaleiros que montam o silêncio. As vítimas

do nervo, as mulheres arraçadas.

Os que nos púlpitos vítreos lavram seu cálice

de gozo na distância.

Umas mulheres tu viste que não largavam as rédeas

dos cavalos argênteos. E o sol sonoro

era uma orgia que despertava os galgos na bouça

dos mistérios.

Mas elas, as mulheres deitadas nas vidraças,

tinham o olhar molhado no século dos Filipes:

ríspidas com a metáfora, o cio e a luxúria.

Toda a lama delas era um ouvido gigante

e que galopava.

Sobre a presilha da infanta Defunta

estendiam as suas mãos filósofas.

Eram a sabedoria espessa, a que rivaliza

com as súmulas morais.

Outros dominam, sozinhos, a linguística.

E o fogo da matriz que inflamou os vocábulos

esqueciam-no nas pregas da doce ortografia.

Também tu assististe à chegada das naus

vindas de França.

Estavas sentado a imitar Pessoa.

A alguns, de ciúme, ardiam-lhe os olhos.

E tu viste-os a empurrar o Velho

para a genuflexão obrigatória.

Nenhum pão de centeio pode matar a fome

aos do Terreiro do Povo.

A multiplicação não foi um milagre: é um facto.

«Isso tudo é o imediato. Nas anteparas do sonho

colectivo, no desfibrar da História encarniçada,

estar aqui ou nos vales da Bavária,

alimentar um porco ou decretar a guerra

é o mesmo fio de água, a mesma pedra memorável

que se debruça, equívoca, no Tempo».

- afirmam as filósofas.

Mas é preciso ainda macerar a Distância.

E no Outono a natureza será sempre fácil

- respondes para ti ao vê-las afastarem-se.

 

 

Armando Silva Carvalho (“Armas Brancas”, 1977)

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por JQ, em 26.10.14

City Sickness, Tindersticks, 1993

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por JQ, em 26.10.14

9 abril 1984 – segunda

rua do Forte / Sines

 

notas:

AS TRIBOS DO NÉON

[…]

À roda dum fogo de néon as tribos relatam epidemias, naufrágios das veias, crimes desesperados, paixões perdidas, notas imemoráveis, nomes que só persistem na memória doida de cada um.

*

À roda dum fogo de néon, sobre o que resta da cidade, as tribos sobrevivem da pilhagem dos escombros, constroem amigos de lata. E noite a noite, cada homem, isola-se na fatalidade da doença. E faz escuro, apenas as estrelas nos dão a impressão de ainda fazermos parte do universo. E de vez em quando um cometa perdido passa, levantamos a cabeça mas já não lhe reconhecemos beleza alguma, tal é grande a nossa desgraça…

Por todo o lado exploramos ruínas de paredes, mobiliário despedaçado, viaturas abandonadas e desfeitas, electrodomésticos, dos quais não nos lembramos da utilidade.

Para que terá servido este objecto a que damos o nome de faca? E este outro a que chamávamos mesa? E as janelas para que serviriam?

[…]

 

excerto de “Al Berto – Diários”, 2012

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por JQ, em 24.10.14

condescendendo-um-pouco_eh-o-tempo-estupido_nao-o-

condescendendo-um-pouco_eh-o-tempo-estupido_nao-o-

condescendendo-um-pouco_eh-o-tempo-estupido_nao-o-

It's Only Time, The Magnetic Fields, 2004 (+ 3  imagens talvez de 2013)

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por JQ, em 24.10.14

8 abril – domingo – 1984

rua do Forte / Sines

 

notas:

AS TRIBOS DO NÉON

 

Eles tinham atravessado o restava / do país. / Já não sabiam muito bem o que / distinguia uma praia do deserto e / este vinha morrer nas praias. // um pequeno compartimento saciava a fome / e a sede. / sob as árvores abrigavam-se do frio / e da chuva química / mas nada os protegia, era uma ilusão, / a vida. // Cobriam os corpos com cinza, pintavam / o rosto… deixavam crescer o cabelo. / confeccionavam máscaras de terra. para se protegerem / da luz das estrelas. / Receavam a noite, mas só nela se / movimentavam.

 

Agora, nus / sem espelho que lhes mostrasse como / eram / podiam sonhar com a perfeição. // Teciam o tempo nos gestos lentos das mãos / olhavam uns para os outros / como se procurassem uns nos outros o / reflexo do que eram / e descobriam que já eram tão pouca coisa / sem amor nem paixão / olhavam absortos desenhar-se com nitidez / a linha branca e penumbrosa que / separa a vida da morte // às vezes usavam lâminas para abreviar o tempo

 

excerto de “Al Berto – Diários”, 2012

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por JQ, em 23.10.14

"The Raft", Bill Viola, 2004

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por JQ, em 23.10.14

10 julho – 1984

rua do forte / Sines

 

[…] Não sei onde ia. Chateia-me falar. Tudo me aborrece. Nenhum consolo nesta solidão. Às vezes, penso que são manias minhas. Que me disponho a este estado de grande desolação, propositadamente. […]

 

 

9 abril 1984 – segunda

rua do forte / Sines

 

notas:

AS TRIBOS DO NÉON

 

e a peste regressará ciclicamente, e as flores perderão o perfume e o pólen, e as aves despenhar-se-ão do alto do voo, e as nuvens de chumbo, e as árvores carcomidas pelos ventos do enorme desastre, submersas as planícies pelas águas do mar e dos rios, os cimos das montanhas onde se refugiam os últimos animais morrerão debaixo da intensa chuva química… e a peste regressará dos esgotos da cidade , invadirá sossegadas famílias, a sua mediocridade e pouco grandeza, a pouco e pouco devassará as casas e as estátuas dos fortuitos heróis, a peste do fim do mundo… a alba alvíssima onde já não haverá olhos para admirarem tamanho esplendor e desolação: grandiosos desertos de terra-mar onde área nenhuma guardou as espécies vivas capazes de prolongar o mundo eternamente. Nenhum Noé-da-Era-Atómica, nenhuns sobreviventes. Quase nenhuns. Cinzas, talvez nem isso. […]

 

dois excertos de "Al Berto - Diários", 2012

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"Sometimes a lie is the best thing"

por JQ, em 11.10.14

You will do and say anything

To make your everyday life

Seem less mundane

 

Tracy Chapman

 

 Telling Stories, Tracy Chapman, 2000

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De quando em vez (2)

por JQ, em 11.10.14

Para além da última, há pelo menos outra "coisa" em comum entre casas, computadores e pessoas: memórias profundas e outras temporárias. Sendo as primeiras de conservar, já as segundas precisam, de quando em vez, de alguma higiene, para que o caminho por entre elas não se torne demasiado lento. Há uns tempos, quando me considerava mais humano, apanhava dois ou três pifos valentes por ano e, na tarde do dia seguinte, este fígado cor de cinza que carrego entre os ombros parecia bem mais leve de memórias, bem mais pronto para reinícios. Com o mesmo objectivo, elimino os ficheiro temporários do computador meia dúzia de vezes ao ano. Quanto aos papéis nas gavetas de casa, sou bem mais preguiçoso. Nem anualmente acontece uma “limpeza da Páscoa”. Bom, nesta última encontrei uma folha A4, já amarelecida pelo mofo decorrido desde o tempo das rádios piratas, em que me terá servido, como neste blog, de pausa entre músicas. Achei-lhe alguma graça e por isso transcrevi-o para aqui. Tinha um título tão juvenil quanto a noção de conjugalidade, simultaneamente ingénua e céptica, como eu ainda, nela subjacente:

 

 

Fanáticos da verdade? Viciados no strip emocional? Tomem lá um pouco de ficção!

 

Foi assim ou mais ou menos. Era já bem tarde quando cheguei a casa, vindo do Quartel-General. Enquanto despia a farda, calhou reparar que a minha de carnes generosa esposa e um franzino tipo qualquer esperneavam felizes na alcatifa. Discretíssimo, como quase sempre, fui à arrecadação, empunhei o Black & Decker e fiz o que tinha a fazer. Dois queriam ser um?! A bem dizer, ficaram ambos definitivamente feitos num oito.

 

Após, subi ao quarto dos meus filhos e risquei da memória cinco anos de insónias e dores de cabeça, vezes mil vezes a cor e o cheiro das fraldas que precisaram. Bom, enchi uma mala e mudei de cidade. Havia séculos que não me sentia tão bem. A partir daí, sempre que precisava disso, dava as minhas voltas, serial e humildemente contribuindo para diminuir a taxa de pouca-vergonha.

 

Num dia qualquer – primaveril, decerto -, levantei a cabeça e reparei que todas as morais estavam de rastos. Convenci algumas pessoas disso e fomos tomando umas quantas medidas para resolver o problema. Chegamos ao ponto de premir alguns botões vermelhos, daqueles capazes de fazer crescer magníficos cogumelos detergentes. Tudo foi varrido, excepto eu e um baú pleno do adn de inúmeros bichinhos. Uf-uf, suspirei de alívio e adormeci...

 

… Para ser acordado por dois estorninhos numa tarde outonal como esta. Ergui o olhar e, lá no alto, o que vi eu? O voo alcoólico dum ovni em forma de frigideira, donde foi despejada uma moça realmente saudável. Deveras mesmo. Não me rendi logo, mas ela, em mim, serviu-se de todos os truques encriptados no seu software de origem.

 

Alguns dias passados, conhecemo-nos no sentido bíblico. Fomos muito felizes durante 949 anos. Eu, ela, umas frangas e ovelhitas de quando em vez. Uma semana antes de atingir a idade de Noé, os céus e as terras fartaram-se de nós, pecadores, e disseram-nos adeus. E todos nós dissemos adeus uns aos outros e a um todo que nunca foi nosso.

 

Bom, podia ter sido bem pior, ou, quem sabe?, talvez melhor. Parecendo que sim, desconfio que os profetas do mais sonoro saber nunca experimentaram a ponta do menor corno da realidade. E daí, talvez tenham desistido de sonhar. Será que alguém, ainda…?

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Alguns riscos


Indícios?, por demais

um tremendo cansaço

de coisas feias, e daí

sons, diversos traços

caracteres alguns

de um rasto só


Algum tempo:


2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho


Junho 2006/Junho 2012

(arquivos não acessíveis

via Google Chrome)


Algumas pessoas:


T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida


Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:


Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.


Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !


joseqcarvalho@sapo.pt


Alguns nomes:


José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov


Outros nomes:


Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman


Algum som & imagem:


Avec élégance

Crazy clown time

Danse infernale

Dark waters

Der himmel über berlin

Forever dolphin love

For Nam June Paik

Gridlocks

Happy ending

Lilac Wine

L'heure exquise

LoopLoop

Materials

Megalomania

Metachaos

Nascent

Orphée

Sailing days

Soliloquy about...

Solipsist

Sorry, I'm late

Submerged

Surface

Their Lullaby

The raw shark texts

Urban abstract

Unter