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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Like A Rolling Stone, Bob Dylan
[ ... ] these are the ways
On which I was raised
I never wanted to kill
I am not naturally evil
Such things I do
Just to make myself
More attractive to you
Have I failed ? [... :) ... ]
(Morrissey, 1989/90)
Ghost Rider, Suicide (Martin Rev + Alan Vega, 1977), a que alguém sobrepôs excertos de "Taxi Driver" (Martin Scorcese, 1976)
Nice girls, not one with a defect,
cellophane shrink-wrapped, so correct.
Red dogs under illegal legs, she looks so good
that he gets down and begs.
She's watching the detectives - "Oh, he's so cute!"
Watching the detectives when they shoot, shoot, shoot.
They beat him up until the teardrops start,
but he can't be wounded 'cause he's got no heart.
Long shot of that jumping sign,
invisible shivers running down my spine.
Cut the baby taking off her clothes.
Close-up of the sign that says "We never close"
You snatch a tune, you a match a cigarette,
she pulls the eyes out with a face like a magnet.
I don't know how much more of this I can take.
She's filing her nails while they're dragging the lake.
You think you're alone until you realize you're in it.
Now fear is here to stay. Love is here for a visit.
They call it instant justice when it's past the legal limit.
Someone's scratching at the window. I wonder who is it?
The detectives come to check if you belong to the parents
who are ready to hear the worst about their daughter's disappearance.
Though it nearly took a miracle to get you to stay,
it only took my little fingers to blow you away.
Just like watching the detectives.
“Don't get cute!", it's just like watching the detectives.
I get so angry when teardrops start, but [ I ] can't be wounded
'cause [ I’ve ] got no heart, watching the detectives,
it's just like watching the detectives.
Elvis Costello, 1978
Watching the Detectives, Elvis Costello & The Attractions, 1978
7 do 11, 2014
(21º aniversário de evento íntimo já não comemorável)
Rua das Janelas Verdes, Lisboa
Num pequeno jardim, contíguo ao Museu N. de Arte Antiga, sento-me numa ponta do único banco ainda livre. Carrego um livro bem pesado, um par de óculos de ler ao perto, filtros e mortalhas, sempre mortalhas, algum tabaco por enrolar e o esquecimento do isqueiro. No outro extremo do banco, reparo numa mulher jovem, de olhos fixos no chão, com o resto do seu corpo numa expressão talvez próxima de uma dor intensa. Hesito, como sempre diante desconhecidos, mas os pulmões falam mais alto: “Não queria incomodá-la, mas por acaso não tem um is...?” Nem pude acabar a frase. A sua resposta? “Está incomodar-me, sim. E se tivesse um não lho daria!”.
Bom, frente ao Tejo ainda sobram outras árvores, talvez uma outra gente mais generosa. Subo um pouco para Leste, compro um isqueiro num quiosque qualquer, sento-me noutro jardim eventualmente mais feliz e recomeço a ler. Quanto mais próximo da 594ª página final dos Diários de Al Berto a leitura tornando se vai cada vez mais difícil. Cada vez menos literárias, as anotações sobre a progressão da sua doença, que então, qual Voldemort social, “não ousava dizer o seu nome”, vão-se avolumando na medida inversa do meu interesse. Justifico?
Talvez pouco tenha a ver com o meu tipo de sangue (o mais egoísta de todos, vulgarmente conhecido como “receptor universal”, por poder receber transfusões de todos os outros e apenas e só servir para doar o meu ao meu próprio “tipo”). Não sei, não posso ter a certeza disso, mas desde sempre me senti quase doente quando tive de entrar em hospitais como visitante, desde sempre recordo a invenção de desculpas quase impossíveis para evitar casamentos e funerais, desde sempre costumo ficar quase deprimido ao ouvir lamentos do umbigo de outros, desde que não amigos de longa data. Desses tão poucos, mesmo parecendo que não, o meu pensar persiste vizinho entre este par de orelhas algo desmesuradas.
Por outro lado, certo é que comprei esse livro por ter entrado num sítio que os vende e nunca ter saído de lugares assim sem comprar fosse o que fosse. Neste acaso, apesar da minha costumeira aversão a discursos do “eu”, entre a diversidade existente e as diversas idades da minha escolha, “Al Berto – Diários”, colectados de uma forma absolutamente sóbria e, enquanto mero leitor, aparentemente correcta e rigorosa por Golghona Angel, foi a que me pareceu mais adequada ao momento.
Aparte obviamente desnecessário: nunca quis e desconfio que nunca vou querer saber de bastidores nem da literatura nem de outra arte qualquer. Preconceito infantil? Claro que sim. Suspeita mais adulta? Uma suave impressão de que quem melhor investe no marketing de si próprio talvez devesse focar a sua atenção menos no umbigo e mais na sua obra.
Passe alguma “choraminguice” neles inerente (diversão: há uns anos, uma das minhas mais queridas professoras da FLUL, ao ouvir-me reduzir a poesia de António Nobre a esse substantivo demasiado “pop”, corrigiu-o de imediato, traduzindo-o por “sentimentalidade”…), o facto é que nos versos de Al Berto quase sempre entrevi uma dimensão, talvez quase universal, bem maior do que a sempre duvidosa “modesta portugalidade” dos seus contemporâneos.
Mesmo sabendo que, dentro de cada um, o isolamento não depende exactamente da quantidade de pessoas que frequenta o “nosso lugar físico ou virtual”, desconfio imenso das suas inúmeras confissões de solidão e distância relativamente às capelas literárias e artísticas de Lisboa em face das inúmeras anotações sobre encontros, jantares e correspondência trocada com inúmeros nomes sonantes das capelas literárias e artísticas da Lisboa de então. Bom, se tal descrença já se revela inútil com os vivos, que direito terei eu ao exigir maior perfeição dos mortos? Adiante.
Um exemplo na revessa dos parágrafos anteriores? Mesmo enquanto protagonista e espectador do seu corpo que decaía, Al Berto, perto do fim, ainda consegue (ba)lançar algum brilho entre a doença e a escrita mais literária, num registo bem mais substante que o apenas diarístico:
[…]
Dia 26 Dez.[1996]
Comprar Big Bill Bronxy e Muddy Waters. Blues, muitos blues, nestes dias do vazio.
- Amanhã – 8.30 – Hospital dos Capuchos.
Análises + dia 27
[…]
Dia 30 – consulta e quimioterapia (2ª vez)
- a 1º sessão foi dia 10 - Dez -
Dia 27 Dez.
aviões levantam voo e sobrevoam o bairro onde vivo – ao lado da mesquita – e penso sempre que um destes aviões que sulcam o vazio da noite vai levar as dores que tenho e não me deixam sossegar. Mas os aviões afastam-se e o ronco perde-se ao longe. A dor permanece e eu vejo as horas avançarem, exactamente como o avião avança para o seu destino – com a diferença que no fim destas horas não há destino nem surpresa – apenas mais dor. E recomeço. Os aviões levantaram voo e passam por cima do bairro onde vivo, etc. etc.
*
Saudades do mar. Saudades de tocar o mar.
*
[…]
*
Os poemas adoeceram (?)
*
Lá fui às 7.30 a caminho do hospital, quase sem dormir, para as análises.
[...]
9 abril 1984 – segunda
rua do Forte / Sines
[…]
notas:
AS TRIBOS DO NÉON
… na valeta, entre um pneu e um animal despedaçado, uma mão…
… vidros, brinquedos, manchas de gordura, um pano bordado…
… um caixilho de janela, um cone de cobre, um mapa-mundi, um cartão com três palavras escritas e uma assinatura…
… uma fotografia, um pacote de bolachas, uma almofada, os restos dum banco…
… uma asa de pássaro, um dedo, um volante de automóvel, uma lâmina, uma chave…
… uma folha de papel, um ramo de cedro, uma garrafa de plástico maia de água turva, uma gravura rasgada representando um naufrágio…
… vidros, beatas, ligaduras, sangue, um livro, uma violeta espalmada entre as pags. 103-104 das obras completas de Rimbaud, mais pneus, mais vidros…
… o metropolitano, as avenidas durante a noite, os parques de estacionamento, a lata amontoada, a lama, as paredes escritas, as profecias da noite, os terraços vidrados do rio, os quartos de pensar, o porto, o lodo, o cheiro a podre das águas, os esgotos, talvez um barco afastando-se pelas águas paradas… talvez um barco, minúsculo e sem velas, navegando em direcção ao crepúsculo, em contraluz…
excerto de “Al Berto – Diários”, 2012
43.
Nada acrescentaste à incúria dos homens.
Estás entre o tempo
e os versos passageiros.
A tua mão convoca-te a uma assembleia
muda.
Sobre os trabalhos o teu olhar
desperta.
O fogo aqui alcança as grutas da memória.
No incêndio da boca
arriscas-te a morrer na fala
sufocada.
Vês arder o poema. Assim desapareces.
Natal de 1975
no final de “Armas Brancas”
(Armando Silva Carvalho, 1977)
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
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Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
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Algumas pessoas:
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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
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