Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
That was the worst Christmas ever, Surfjan Stevens, 2006 (imagens de John P. Gelety, 2009)
Amanhã, se Saturno e o resto da conjuntura astral, financeira ou sindical, mo permitirem, partirei para tailândias e adjacências exóticas que tais, por um par de semanas, só em busca de elefantes, que ardilosamente escondem a sua falta de ensino ou talento sob o manto de preguiçosas dissonâncias. P.f., que ninguém os condene. Eu, por exemplo, que desisti de buscar verdades e, sem menor sombra de êxito, quase só procuro afectos minimamente significantes, nunca atiraria a primeira pedra a presumptivas vanguardas (nunca, sobretudo, após publicar excertos do youtube ou da wikipedia):
In Roman mythology, Saturn was an agricultural deity who was said to have reigned over the world in the Golden Age, when humans enjoyed the spontaneous bounty of the earth without labor in a state of social egalitarianism.
[...]
Saturnalia was an ancient Roman festival in honor of the deity Saturn, held on the 17th of December of the Julian calendar and later expanded with festivities through to the 23rd of December. The holiday was celebrated with a sacrifice at the Temple of Saturn, in the Roman Forum, and a public banquet, followed by private gift-giving, continual partying, and a carnival atmosphere that overturned Roman social norms: gambling was permitted, and masters provided table service for their slaves. The poet Catullus called it "the best of days."
[...]
In one of the interpretations in Macrobius's work, Saturnalia is a festival of light leading to the winter solstice, with the abundant presence of candles symbolizing the quest for knowledge and truth. The renewal of light and the coming of the new year was celebrated in the later Roman Empire at the Dies Natalis of Sol Invictus, the "Birthday of the Unconquerable Sun," on December 25.
The day was supposed to be a holiday from all forms of work. Schools were closed, and exercise regimens were suspended. Courts were not in session, so no justice was administered, and no declaration of war could be made.
After the public rituals, observances continued at home. On December 18th and 19th, which were also holidays from public business, families conducted domestic rituals. They bathed early, and those with means sacrificed a suckling pig.
[...]
It was a time for free speech: the Augustan poet Horace calls it "December liberty." In two satires set during the Saturnalia, Horace has a slave offer sharp criticism to his master. But everyone knew that the leveling of the social hierarchy was temporary and had limits; no social norms were ultimately threatened, because the holiday would end.
[...]
The Sigillaria on December 19 was a day of gift-giving. Because gifts of value would mark social status contrary to the spirit of the season, these were often the pottery or wax figurines called siggilaria made specially for the day, candles, or "gag gifts", of which Augustus was particularly fond. Children received toys as gifts. In his many poems about the Saturnalia, Martial names both expensive and quite cheap gifts, including writing tablets, dice, knucklebones, moneyboxes, combs, toothpicks, a hat, a hunting knife, an axe, various lamps, balls, perfumes, pipes, a pig, a sausage, a parrot, tables, cups, spoons, items of clothing, statues, masks, books, and pets. Gifts might be as costly as a slave or exotic animal, but Martial suggests that token gifts of low intrinsic value inversely measure the high quality of a friendship. Patrons or "bosses" might pass along a gratuity (sigillaricium) to their poorer clients or dependents to help them buy gifts. Some emperors were noted for their devoted observance of the Sigillaria.
In a practice that might be compared to modern greeting cards, verses sometimes accompanied the gifts. Martial has a collection of poems written as if to be attached to gifts. Catullus received a book of bad poems by "the worst poet of all time" as a joke from a friend [... : ) ...]
Slapped Actress, The Hold Steady, 2008 (2009?)
Hoje os discursos morrem nos pulmões
o ar é necessário às bocas sumptuosas
ao vento que soprou sobre os cabelos da noite
e nestes versos de feira da ladra.
As tuas batas negras são as velas do tempo
no passatempo dos velhos farmacêuticos.
Aqui comes o peixe que a gramática congela
a carne do silêncio no corredor dos bares.
Hás-de sentir a matraca fascista
numa vila do centro. E de novo ao sul
o bafo dos turistas nos vapores do tédio.
Armando Silva Carvalho
(Armas Brancas, 1977)
Agosto 2007. Após quatro meses sem publicar um único post, sem trocar quase nenhum email ou sms, num desabafo intitulado “A não repetir tão cedo” rezava eu: “Experiência: esticar a liberdade individual até ao ponto em que ela se confunde com uma noção demasiado próxima da morte”.
Novembro 2014. O elefante que sobrevive, mordendo folhas nos ramos da minha memória, não é bem um probóscide, pois suspeito ter na minha garagem uma girafa bem mais real, com um montão de cicatrizes e riscos policromáticos. Claro que voltei a repetir a experiência. Claro que, desde há muito, morri social e afectivamente dúzias de vezes. Numas deixei-me enterrar toupeira ou musaranho; noutras ressuscitei mais mamífero, mesmo se inconsciente, ao contrário de quase todos os primatas, de que a comunicação não passa de uma prótese da sobrevivência. Ainda assim, vou mantendo um trabalho quase independente do tempo, de colegas e superiores hierárquicos, uma quase existência livre de "gostos" de "amigos" das "redes sociais". Em abono desta ilusão, dependo de mim quase só...
Dezembro 2014. Às vezes parecendo que sim, a sério que não quero que a sociedade se foda. Idealmente anarca, porque creio ser vital defender utopias individuais e colectivas, na prática não passo de um reles social-democrata do início do século passado. Simplificando ainda mais, faço o mínimo possível para garantir o meu tecto, a minha comida e um pouco mais, esperando que alguma providência estatal garanta aos menos afortunados do que eu também tecto e também comida. O pouco mais além disso suponho depender da liberdade cada menos presente nas escolhas de cada um.
2015 em diante? O pecado da auto-citação: “Experiência: esticar a liberdade individual até ao ponto em que ela se confunde com uma noção demasiado próxima da morte”. Claro que me fui cansando de experiências. Precisando vou de algo mais consistente. Não a morte, que enfado! Criado fui por um par de arautos dela e, talvez por isso, tornei-me demasiado áspero diante de alguns dos seus cultores. Ainda assim suspeito que, na ausência de outro valor mais perene, quanto menor o desejo, quanto menor a minha pior esperança, tentarei prolongar a minha liberdade individual até ao ponto em que…
- Agora não, rapaz. Lá vem ela. Finge que não a vês. É mais uma avaria contemporânea, uma vítima mais de relógios alheios, convencida sabe-se lá do quê, talvez por mais uma pequeníssima verdade qualquer. No seu fundo, mais uma submersa no imenso sufoco de si mesma. Julga-se o máximo a que devemos aspirar e até pode ser, para quem a perdeu ou nunca a teve, mas nunca vai sequer emprestar um par de orelhas mudas à tua boca gradualmente mais surda. Sim, lá vem ela, como se de novo... quão velhaca persiste, em poses de moderna idade, de séria governança ou oposição responsável! Entre quase nada e tanto ruído, façamos de conta que parámos a olhar uma montra, um écran qualquer, e que até entendemos o seu/nosso crime: na sua quase perfeita mentira, a linguagem do Império actual.
The Last of the Famous International Playboys, Morrissey, 1990
- Agora sim, mas discretamente, olha de novo: tenta vislumbrar uma outra espécie de liberdade, esta mais além, no contemporâneo trânsito tolhida, à espera de rotundas ou semáforos mais generosos... A tua sombra, na qual ninguém já busca algum saber, a liberdade da tua tia e a de quem vier, persiste à espreita na próxima esquina, mas nunca no olhar dos orfãos de sempre. A minha sombra de liberdade? LOL, pesemos a ausência de peso: quantos seremos, desterrados num inóspito planeta, sem qualquer terra onde cair mortos? Uma qualquer sombra da minha liberdade? Abandonou-me/persegue-me desde que lhe disse não me bastar. Feitio/defeito meu: preferia ser recluso de tanto que nunca vou conseguir imaginar e de tanto mais por sentir.
Mais uma ociosa passagem pelos Diários de Al Berto. Desta vez, quer no tom quer no tema, atípicos no meio de 591 págs. repartidas entre a linguagem naturalmente (mas nem sempre) banal de anotações sobre rotinas e ocorrências diárias e o maior (e bem mais interessante) capricho na escolha das palavras em rascunhos de obras por publicar, um excerto que pouco continha para me assombrar e, no entanto, assombrou:
10 abril 1984 – terça
rua do forte / Sines
[…] Eu tive um filho com quem nunca vivi. Vive com a mãe algures num país cujo nome não quero lembrar. Ou talvez tenha morrido num acidente qualquer, numa febre incontrolável, um poço, um descuido, sabe-se lá…
Por vezes penso nele, no seu nome que não tem rosto, nas relações que pode ter com a mãe, na possibilidade de um dia me cruzar com ele, descobrir que é meu filho e nunca lhe revelar que sou eu o pai. Fascina-me a ideia de reencontro. Aterroriza-me pensar que pode ser parecido comigo, um simples gesto preguiçoso ao acender o cigarro, um sorriso, um olhar vagaroso sobre as coisas. Aterroriza-me saber que, em sítios longínquos, alguém semelhante me vai perpetuando… […]
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: