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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Rowan Atkinson & Hugh Laurie (sobre Shakespeare, mas não só)
[1949] 11 de Janeiro
O cretino que ouviste esta noite («todos nós defendemos o nosso interesse, os partigiani [membros da Resistência italiana durante a “2ª Guerra Mundial”] idem, os idealistas são uns estupores, estou-me nas tintas para a morte e que amanhã estejamos todos bem instalados») és tu nos momentos de prudência. Se tivesses refutado esta atitude no passado (id est, agido) talvez agora não te encontrasses nesta situação (Leone). Tragédia. E, no entanto, daqui a cem anos acreditarás em ti. Não. Acreditarás no conformismo de então.
13 de Janeiro
Viver entre as pessoas é sentirmo-nos como folha ao vento. Daí vem a necessidade de isolamento, de fuga ao determinismo de todas aquelas bolhas de bilhar.
19 de Janeiro
Recensão de Cecchi, recensão de De Robertis, recensão de Cajumi. Consagrado pelos grandes mestres-de-cerimónia. Dizem-te: tens quarenta anos e venceste, és o melhor da tua geração, passarás à História, és bizarro e autêntico… Sonhavas com outra coisa aos vinte anos?
E depois? Não irei dizer: «é tudo e agora?» Sabia o que queria e sei o que vale, agora que o tenho. Não era apenas isto o que queria. Queria continuar, ir mais além, devorar mais uma geração, tornar-me eterno como uma colina. Portanto, nada de desilusões. Apenas uma confirmação. A partir de amanhã (a não ser que a saúde não o permita), continuamos imperturbáveis. Não direi que vou começar, porque nunca ninguém começa. Há sempre um passado, uma primeira vez também nisto. Amanhã vou atirar-me ao trabalho, como ontem. Mas que segurança de faro, que consciência de vontade e de destino! E se o valor estiver aqui e não nas obras?
28 de Janeiro
Continua o estado de vagueza, de busca incerta. Reabre-se o problema já muitas vezes abordado: não dás conta de viver porque procuras um novo tema, passas apalermado pelos dias e pelas coisas. Quando tiveres recomeçado a escrever, pensarás apenas em escrever. Em suma, quando é que vives? Tocas o fundo? Estás sempre absorto no trabalho. Chegarás à morte sem dar por isso. Eis porque a infância e a juventude são um viveiro eterno: nessa altura não tinhas um trabalho e olhavas a vida desinteressado. Eficácia do amor, da dor, das peripécias: interrompemos o trabalho, regressamos à adolescência, descobrimos a vida.
Porque é que o escritor não deve viver do seu trabalho de escritor? Porque então teria de fornecer uma determinada mercadoria. Deixa de ser livre perante si próprio. A todo o momento o escritor deve poder dizer: não, não escrevo isto. Isto é, ter outro ofício. Haverá coisa mais arriscada do que sustentar uma família à custa dos romances que escrevemos ou, de um modo geral, à custa da pena?
Cesare Pavese, "Il mestiere di vivere" (1ª edição italiana em 1952 / ed. portuguesa de 2004 / 1ª leitura fragmentária em 2008 / agora finalizada, chiça, em Agosto de 2015)
[...] Well I spent too long
Just stuck on the shore
There's a man in my head
But he isn't me anymore
I'm gonna find me a ship
Stowaway on a boat
I'm gonna burn [...]
Medicine Bow - The Waterboys, 1985
Raso, limpo, raso,
Oca, verde, raso,
Plano, fulvo, raso,
Autos, fios, fotos.
(E o íntimo?
O pensado desdobra o seu relance tenso,
Os pneus quentes
Levam seu ar bombado à fúria entrópica
E, rolando, oiço o imenso).-
No Turismo sou pois o responsável
Fisicamente por umas tantas vidas
Só porque ligo à neura que as sinapses
Radiam em mensagens mal cumpridas.
Fúria Entrópica - Nemésio Vitorino, 10.5.1971
Um leão numa rosa de cretone,
Eis o Anjo que tenho de saudar
Na pobre ratoeira de consumo que é esta praia antiga,
Uma palma de areia na mão vã do hominídeo,
Um penso de anémona na ferida flor de cianose,
Nossa angústia habituada – portuguesmente vil-tristeza, -
Nosso cansaço clássico, vitaminado a C.
Que maçada e que sono!
Lembrar-se a unha do pé que isto foi roxo e virgem
No pinho de Isabel, aragonesa breve
Que o marido plantou e enganou logo!
Uma corda de agulhas pendia ao pescoço da Rainha,
Burrinhos e ginetes despontavam raros do atalho;
Lá para dentro, mais tarde, num lenço de Alcobaça, Inês chorava:
Cismaram aqui os olhos grandes e doloridos de Mouzinho,
Sua alta audácia ao longe, flor de pólvora e teima,
Leve margarida de fogo inocente nas ventas de um cavalo
Que se está marimbando para Victoria Queen,
No arção bem suado o Cavaleiro das Mãos Limpas.
Tudo isto na praia ocidental de agosto e bruma!
Um palpite de tédio excita as motoretas que se peidam,
As barrigas ingénuas de tristes pais mal pagos,
O golfinho de nylon que guarda o cuzinho conjugal:
Tudo isto na careta do leão de cretone do meu quarto,
Enevoado lá fora, preocupado cá dentro, ainda mais dentro metabólico,
Veraneando a taxímetro na saudade das ilhas pelágicas,
Com a coroa asterídea dos meus oitos netos na cabeça
E – sobre tudo isto – velho e tolo de esperança:
Que não é sensato esperar do nada coisa alguma
Mas só de morte fiar puro perdão de Deus,
Entre pinhas reais e Afonso LV, Dinis II,
Com um búzio e uma vieira – or piango or canto – muito fina,
Por conta de Camões e um pouco de Petrarca,
Devendo aliás chorar muito mais do que canto
E calar a buzina!
Praia e Pinho - Nemésio Vitorino, 22.8.1971
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
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