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FdS

por JQ, em 29.05.16

These Days - Nico (1967)

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por JQ, em 29.05.16

Recordo vagamente aqueles tempos. O essencial. As casas a preto e branco, as plantas cuidadas, a multidão, o cerco. A arte. O verniz das madeiras. A passarada nas beiradas dos telhados. A roda dentada. A arte… a arte. Os artistas. Chegavam até mim de mãos fechadas e palavras. Um resto de saber cru escapava-se-me através dos poros e dos dentes podres. É uma identificação minha, uma paranóia oculta, um medo entendido. O celulóide queimado e o papel amassado, erectos sobre as andas da inferioridade. Sempre casmurro e discreto. O álcool bêbado nas sarjetas da manhã, o sol opaco por cima das árvores do monte e o mosteiro, lá em cima, esquecido no tempo. A arte e os artistas. Os muros em volta. As flores no alcatrão e a cal em pedaços. Recordo vagamente

 

Paulo Vinhal

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por JQ, em 29.05.16

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 vista do sotão materno - V.C., Dezembro 2015

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"Já só é possível a calma"

por JQ, em 27.05.16

Que a amnésia nunca nos beije na boca

Roberto Bolaño

 

O sono descalça-se, desenha o trigo a aguarela,

Amarelo que foge com o vento,

o sono descalça-se.

Como um fabricante de sinos do futuro,

o lavrar subaquático dos campos de Marte:

mudámos as linhas, todas,

Acelerámo-las em direcção ao coração;

Jiacina abre a caixinha do sono, ele expande-se em rede,

como uma estrela fluorescente,

entra nas casas, nos prédios, nos edifícios municipais,

os homens dormem:

O sono põe céu entre as árvores

e põe céu entre as casas, e põe o céu entre as pernas –

o céu permite a música,o céu acorda a música,

o céu possui a música –

A música põe o céu entre as pernas,

como uma cabeça viva, extremamente viva –

O orgasmo das raparigas é clitorial – o céu sabe isso –

O céu lambe a música, o sono foge para dentro dos búzios

com as suas meias de lã grossa, de fora,

por uma alegoria mais doce injectamos leite condensado no peito,

na sede de contar uma história hiper-real

recheámos uma estrela suicida de memórias,

ela escreve a giz no espelho que o sono venceu o medo,

e que a música venceu o medo:

a casa é mais ampla agora, o arado sulca a terra fluorescente,

pelo fim de todos os símbolos damos a mão,

pelo último mito bebemos da boca:

uma só –

Lancetaram o útero à loucura

só ela pode ter filhos –

O amor é a união do medo com a música,

tinha a boca ao lado e a vontade de possuir tudo.

Jiacina liberta o sono,

ele cai da boca como leite condensado:

o sono tem a música entre as pernas –

Já só é possível a calma.

 

- Nuno Brito

 

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3 gifs de autores desconhecidos + "Unter", de Nils Frahm (2010)

 

LARGUEM TUDO, NOVAMENTE.

 

Desde os confins do sistema solar há quatro horas-luz; desde a estrela mais próxima, quatro anos-luz. Um desmedido oceano vazio. Mas estamos realmente certos de que há somente um vazio? Unicamente sabemos que neste espaço não há estrelas luminosas; e se existissem, seriam visíveis? E se existissem corpos não-luminosos ou escuros? Não poderia acontecer que nos mapas celestes, como nos da Terra, estivessem destacadas as estrelas-cidades e omitidas as estrelas-aldeias?

 

– Escritores soviéticos de ficção científica arranhando a cara à meia-noite.

– Os infrassóis (Drummond diria os alegres garotos proletários).

– Peguero e Boris solitários num quarto-lumpen, pressentindo a maravilha atrás da porta.

 – Free Money

*

Quem atravessou a cidade e, por uma única música, recebeu os assobios dos seus semelhantes, as suas próprias palavras de assombro ou a raiva?

 

O belo mânfio que não sabia

que o orgasmo feminino é clitórico

 

(Busquem, não há merda só nos museus)

(Um processo de museificação individual)

(A certeza de que tudo está nomeado, revelado)

(Medo da descoberta)

(Medo de desequilíbrios imprevistos)

*

Os nossos parentes mais próximos: os franco-atiradores, os pioneiros solitários, que assolam os cafés dos mestiços da latino-américa, os massacrados em supermercados, nas suas tremendas e disjuntivas indivíduo-coletividades; a impotência entre a acção e da busca (a níveis individuais ou bem enlameados em contradições estéticas) da acção poética.

*

Pequeninas estrelas luminosas guiando-nos eternamente o olhar para um lugar do universo chamado Os Labirintos.

 

Dancing club da miséria

– Pepito Tequila soluçando seu amor por Lisa Underground.

– Chupe-se-o, chupe-te-o, chupem-mo-no

– E o Horror

*

Cortinas de água, cimento ou lata, separam uma maquinaria cultural, a que o mesmo lhe serve de consciência ou o cu da classe dominante, de um acontecer cultural vivo, esfregado, em constante morte ou nascimento, ignorante de grande parte da história e das belas-artes (criador quotidiano da sua louquíssima história e das suas alucinantes velhas-artes), corpo que de imediato experimenta em si mesmo sensações novas, produto de uma época em que nos aproximamos, a 200 kms/hora da privada ou da revolução.

 

“Novas formas, raras formas”, como dizia, entre o curioso e o risonho, o velho Bertold.

*

As sensações que não surgem do nada (obviedade de obviedades), senão da realidade condicionada, de mil maneiras, a um constante fluir.

 

– Realidade múltipla, marés a nós!

 

Assim é possível que por um lado nasçamos e por outro estejamos nas primeiras poltronas dos últimos estertores. Formas de vida e formas de morte passeiam entre si quotidianamente pela retina. O seu choque constante dá vida às formas infrarrealistas: O OLHO DA TRANSIÇÃO.

*

Enfiem toda a cidade no manicómio. Doce irmã, barulhos de tanque, canções hermafroditas, desertos de diamante, só viveremos uma vez e as visões a cada dia mais brutas e escorregadias. Doce irmã, passeio para Monte Albán. Apertem os cintos porque se regam os cadáveres. Um movimento a menos.

*

E a boa cultura burguesa? E a academia e os incendiários? E as vanguardas e suas rectaguardas? E certas concepções do amor, a boa paisagem, a Colt precisa e multinacional?

 

Como me disse Saint-Just num sonho que tive faz tempo: Até as cabeças dos aristocratas podem servir-nos de armas.

*

Uma boa parte do mundo vai nascendo e outra boa parte vai morrendo, e todos sabemos que todos temos que viver ou todos morrer: e nisto não há meio-termo.

 

Chirico disse: é necessário que o pensamento se alheie de tudo o que se chama lógica e que, no bom sentido, se alheie de todas os travões humanos, de tal forma que as coisas lhe apareçam sob um novo aspecto, como que iluminadas por uma constelação surgida pela primeira vez. Os infrarrealistas dizem: vamos cair de cabeça em todos os travões humanas, de tal modo que as coisas comecem a mover-se dentro de si mesmas, como uma visão alucinante do Homem.

 

– A constelação do Belo Pássaro.

– Os infrarrealistas propõem ao mundo o indigenismo: um índio louco e tímido.

– Um novo lirismo, que na América Latina começa a crescer, sustentando-se em maneiras que não deixam de nos maravilhar. O começo do assunto é o começo da aventura: o poema como uma viagem e o poeta como um herói que revela heróis. A ternura como um exercício de velocidade. Respiração e calor. A experiência disparada, estruturas que vão se devorando a si mesmas, contradições loucas.

 

Se o poeta estiver imiscuído, o leitor terá que imiscuir-se.

 

“Livros eróticos sem ortografia”

*

Antecedem-nos MIL VANGUARDAS ESQUARTEJADAS DOS ANOS 60.

As 99 flores abertas como uma cabeça fendida.

As matanças, os novos campos de concentração.

Os brancos rios subterrâneos, os ventos violetas.

 

São tempos duros para a poesia, dizem alguns, tomando chá, escutando música nos seus departamentos, falando (escutando) os velhos maestros. São tempos duros para o Homem, dizemos nós, voltando às trincheiras, depois de uma jornada plena de merda e gases lacrimogénios, descobrindo/criando música para os departamentos, olhando longamente os cemitérios-que-se-expandem, onde os velhos maestros tomam desesperadamente uma xícara de chá, ou se embriagam de pura raiva ou inércia.

 

Antecede-nos a HORA ZERO.

((Cria mestiços e eles morder-te-ão os calos))

Ainda estamos na era quaternária. Ainda estamos na era quaternária?

Pepito Tequila beija os mamilos fosforescentes de Lisa Underground e vê-a afastar-se por uma praia donde brotam pirâmides negras.

*

Repito:

O poeta como um herói revelador de heróis, como a árvore vermelha caída que anuncia o princípio do bosque.

– As intenções de uma ética-estética consequente estão empedernidos em traições ou sobrevivências patéticas.

– Um indivíduo poderá andar mil quilómetros, mas ao longo do caminho, este acaba por comê-lo

– A nossa ética é a revolução, e a vida a nossa estética: uma só coisa.

*

Os burgueses e os pequenos-burgueses estão em festa. Todos os finais de semana têm uma. O proletariado não tem festa. Somente funerais com ritmo. Isto vai mudar. Os explorados terão uma grande festa. Memória e guilhotinas. Intuí-la, representá-la certas noites, inventar-lhe arestas e cantos húmidos é como acariciar os olhos ácidos de um novo espírito.

*

Deslocamento do poema através das temporadas dos motins: a poesia produzindo poetas produzindo poemas produzindo poesia. Não um corredor eléctrico / o poeta com os braços separados do corpo / o poema deslocando-se lentamente entre a sua Visão e a sua Revolução. O corredor é um ponto múltiplo: “Vamos inventar para descobrir a sua contradição, as suas formas invisíveis de negação, até esclarecê-lo”. Deslocamento do acto de escrever para zonas nada propícias ao acto de escrever.

 

Rimbaud, volta para casa!

 

Subverter a realidade quotidiana da poesia actual. Os encadeamentos que conduzem a uma realidade circular do poema. Uma boa referência: o louco Kurt Schwitters. Lanke trr gll, o, upa kupa arggg, sucedem-se, em linha oficial, a investigadores fonéticos, codificando o uivo. As pontes do Noba Express são anticodificantes: deixem que grite, deixem que grite, (por favor, não peguem num lápis, nem num papel, nem o gravem; se querem participar, gritem também); assim sendo, deixem que grite, para, quando isto terminar, podermos descobrir a nossa face final, aquela que incrivelmente atravessamos.

 

As nossas pontes para tempos ignorados. Versos cruzando realidade e irrealidade. Convulsivamente.

*

Que posso pedir à actual pintura latino-americana? Que posso pedir ao teatro?

 

Mais revelador e plástico é parar num parque demolido pelo smog e ver o cruzamento de grupos de gente (que se comprimem e expandem) e das avenidas, quando aos automobilistas e aos pedestres é urgente chegar às suas casas, a hora em que os assassinos saem de casa e são perseguidos pelas suas vítimas.

 

Francamente, que histórias têm contado os pintores?

O interessante vazio, a forma e a cor fixas, a paródia do movimento, num acaso mais feliz. Pinturas que só servirão de anúncios luminosos nas salas de engenheiros e médicos que as coleccionam.

O pintor que se acomoda numa sociedade cada dia mais “pintora”: é aí onde ele se encontra desarmado e não passa de um palhaço.

 

Se um quadro de X é encontrado em alguma rua por Mara, esse quadro adquire a categoria de coisa divertida e comunicante; é um salão tão decorativo como as cadeiras de ferro do jardim do burguês / questão de retina? / sim e não / mas melhor seria encontrar (e por um tempo sistematizar aleatoriamente) o factor detonante, classista, cem por cento propositivo da obra, em justaposição dos valores de “obra” que a precedem e condicionam.

 

O pintor deixa o estúdio e QUALQUER status quo cai de cabeça na maravilha / ou se põe a jogar xadrez como Duchamp / uma pintura didáctica para a mesma pintura / e uma pintura da pobreza, grátis ou bastante barata, inacabada, de participação, de questionamento na participação, de extensões físicas e espirituais ilimitadas.

 

A melhor pintura da América Latina é a que ainda se faz a níveis inconscientes: o jogo, a festa, a experiência que nos dá uma visão real do que somos, e nos abre caminho ao que podemos, será a melhor pintura da América Latina, é a que pintamos com verdes e vermelhos e azuis sobre nossos rostos, para nos reconhecermos na incessante criação da tribo.

*

Experimentem largar tudo diariamente.

 

Que os arquitectos deixem de construir cenários para dentro e que abram as mãos (ou que as empunhem, depende do lugar) para esse espaço por fora. Um muro e um telhado adquirem utilidade quando não só servem para dormir ou evitar chuvas, senão quando estabelecem, a partir, por exemplo, do acto quotidiano do sonho, pontes inconscientes entre o Homem e suas criações, ou a impossibilidade momentânea destas.

 

Para a arquitetura e a escultura, os infrarrealistas partem de dois pontos: a trincheira e a cama.

*

A verdadeira imaginação é aquela que dinamita, elucida, injecta esmeraldas microbianas na imaginação dos outros. Em poesia e no que seja, o começo do assunto tem que ser, logo aí, o começo da aventura. Criar as ferramentas para a subversão quotidiana. Os tempos subjectivos dos seres humanos, com suas belas árvores gigantes e obscenas, como laboratórios de experimentação. Fixar, entrever situações paralelas, e tão dilacerantes como um grande arranhão no peito, no rosto. Dos gestos, uma analogia sem fim. São tantas que, quando aparecem os novos, nem nos damos conta, ainda que estejamos defronte, enfrentando um espelho. Noites de tormenta. A percepção abre-se mediante uma ética-estética levada aos últimos limites.

*

As galáxias do amor aparecem na palma de nossas mãos.

 

– Poetas, soltem tranças (se as tiverem)

– Queimem as vossas porcarias e comecem a amar, até que cheguem versos inimagináveis.

 

Não queremos pinturas cinematográficas, antes enormes entardeceres cinéticos.

Cavalos correndo a 500 quilómetros por hora.

Esquilos ardentes pulando de árvores em fogo.

Uma aposta para ver quem dá o primeiro sinal de luz, entre o nervo e a pílula sonífera.

*

O risco sempre está noutra parte. Poeta será quem sempre se abandona diante de si mesmo. Nunca por muito tempo no mesmo lugar, como os guerrilheiros, como os ovnis, como os olhos brancos dos condenados a prisões perpétuas.

 

Fusão e explosão de duas margens: a criação como um graffiti resolvido e aberto por uma criança louca.

*

Nada mecânico. As escalas do assombro. Alguém, talvez o Bosco, rompe o aquário do amor. Dinheiro grátis. Doce irmã. Visões levianas como cadáveres. Little boys esculpindo beijos em Dezembro.

*

Às duas da manhã, depois de ter estado na casa de Mara, escutamos (Mário Santiago e alguns de nós) risos que saíam da penthouse de um edifício de 9 andares. Não paravam, riam e riam, enquanto nós, mais abaixo, dormíamos apoiados em várias cabines telefónicas. Chegou um momento em que só Mário seguia prestando atenção aos risos (a penthouse é um bar gay ou algo parecido, e Dario Galicia tinha-nos dito que está sempre vigiado por polícias). Nós fazíamos chamadas telefónicas, mas as moedas eram feitas de água. Os risos continuavam. Após termos abandonado esta colónia, Mário contou-me que realmente ninguém havia rido, eram risos graduais e, lá em cima, na penthouse, um grupo reduzido ou talvez só um homossexual, havia escutado em silêncio o seu disco e fez-nos escutá-lo.

 

– A morte do cisne, o último canto do cisne, o último canto do cisne negro, não estão no Bolshoi, excepto na dor e na insuportável beleza das ruas.

– Um arco-íris que começa num filme de má morte e que termina numa fábrica em greve.

– Que a amnésia nunca nos beije na boca. Que nunca nos beije.

– Sonhámos utopias e acordámos gritando.

– Um pobre vaqueiro solitário que retorna a casa, à sua maravilha.

*

Fazer surgir novas sensações – subverter o quotidiano, OK.

LARGUEM TUDO NOVAMENTE.

LANCEM-SE PELOS CAMINHOS.

 

Manifesto Infrarrealista

Roberto Bolaño, México, 1976

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por JQ, em 20.05.16

Rachmaniana (Daniil Trifonov, até há pouco apenas intérprete de outros, agora interpretando uma composição própria)

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Entre tanto mais, um dos cada vez mais raros bloggers, a que me atrevo a chamar “dos meus preferidos”, tem publicado coisas destas:

por JQ, em 20.05.16

...Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..., como disse Pessanha, a que eu ajuntaria pequenos juncos que vieram dos canaviais das margens do Sizandro, arrumar-se em pequenos e breves montículos na pequena praia de escassas areias, porque estava maré cheia. Dois ou três jovens pardais, da cor da fuligem, saltitavam e debicavam nessas breves colinas de lixo natural, em busca de não sei o quê. O Sol declinava. À distância, parecia estar apenas a um metro da altura das águas e iluminava nuvens que iam do sulfúreo ao cinzento, passando por um róseo e um ainda mais escasso azul, tímidos. No pequeno bar-restaurante, meia dúzia de estrangeiros jantavam e nós bebíamos café. Um velho lobo do mar encostava-se ao balcão e beberricava um copo de tinto. Cíclicamente, olhava para trás, em direcção ao pôr do Sol. E entoava, baixo, uma cantilena. A uma sibilina pergunta da empregada do balcão, respondeu, alto: "Estou a ver se, desta vez, vejo o raio verde!" E foi aí que eu me lembrei do meu pai e de Júlio Verne...

…/…

O Sado corre, generoso e incessantemente, para o mar. Num azul mais firme que o do céu. Duas linhas de areia, paralelas, no horizonte; uma fímbria de verde vem de Tróia, com casas esparsas, ribeirinhas e térreas de brancura lavada. Tremem as primeiras luzes... Como me vêm, assim naturais, os versos de Eugénio: ".../ música de tanto olhar a água, /..."

…/…

Como se forma o gosto? / De muito ouvir, de muito ler, de muito ver. / De viver e de pensar. / Mas ainda é curto, falta mondar, perder. / Comparar e escolher. / Mesmo que já muito poucos nos acompanhem.

…/…

[…] fui o que fui: uma mistura /  de vinagre e azeite de comer / um embutido entre o anjo e a besta.

…/…

Quem assim escreve, ou reproduz escritas alheias, merece ser lido. Exceptuando a óbvia noção de raros comentários que tenho recebido e desfazendo a mínima ideia de que isto não passa de uma troca de favores (por que raio haveria eu...? Não faço ideia, nem procuro esse saber… não se trata de falsa modéstia, pois, com o correr do Tempo, já me habituei, há décadas, a só comunicar com o próprio espelho… já quase nada mantenho contra o Mundo, para mim ainda quase imundo… só comunicando vou o que posso), havendo quem navegue sem preconceitos, alguém tente passar por lá. A primeira leitura até pode soar apenas prosaica. Não é, raramente é. Demorando o olhar e ouvindo um pouco melhor, talvez seja possível apreender algo mais. Falo apenas por mim: a sério que vale a pena cruzar olhos e ouvidos pelo Arpose.

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Sobre desertos (preciso de férias, ando a sonhar demasiado com a minha cidadezinha natal e preciso entender exactamente porquê)

por JQ, em 19.05.16

In the desert you can remember your name

'Cause there ain't no one to give no pain

Under the cities lies a heart made of ground

But the humans won't never give you no love

 

Horse with no name - America, 1971 (uma das músicas favoritas na minha infância + uma letra que descreve quase exactamente estes 14 anos em Lisboa + excertos de "Breaking Bad"... não, nunca vendi metanfetaminas... há muito que desconfio de "verdades químicas"... não fossem crimes contemporâneos e distribuiria sempre, sem nada cobrar, apenas sons, palavras, imagens e ainda mais ideias fora de prazo, para que alguém do outro lado pudesse usufruir momentos um pouco mais coloridos... bom, assim entre tímidos parêntesis, de  mim só, do meu melhor fundo, acaba por ser isto o que realmente desejo para quem gostei, para quem algum dia de mim gostou e também para quem nunca teve esse azar :)

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No meu Português/"Universalês", nem sempre 1+1=2: quando o Amor, essa Fortuna antiga, acontece: 1+1=1... quando não: 1+1=jts54e765fsut893fdufgd, bla-bla, pardais ao ninho, etc. e tal, ou, acreditando nalgum futuro: 1+1=#, com algum sorriso por perto:)

por JQ, em 16.05.16

Não só, mas sobretudo

para o Miguel & Carolina, aves

talvez nem saibam quão raras são

 nem a minha sorte de tê-las conhecido

neste deserto chamado Lisboa

 

Input / Output - Terri Timely, 2015

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História ( = moral + zoologia)

por JQ, em 16.05.16

Ontem à noite, aconteceu-me um raro momento televisivo. Enquanto uma infinidade de canais repetia a felicidade ululante de fanáticos da bola, tive a sorte de rever, na RTP Memória, um dos mais belos momentos da cinematografia norte-americana. Detalhes de sonhos da minha infância, despoletados por esse filme, ficam para depois.

 

Ei!, já fui jovem, daí algures entre o desconfiado e o irreverente, mas, agora, já quase nada mantenho contra a felicidade alheia; seja em estádios, contemporâneos templos e supermercados, capelas para escravos submissos diante da sua circunstância, cada um procura o que sente precisar e, quando o encontra, quem sou para colorir o meu/seu/nosso presente de negro e cinzas? Absolutamente ninguém.

 

É de supor que isso seja “democrático”. Eu já nem sequer suponho. Eu acredito “nisso”, mas, ontem, srs. decisores da programação televisiva, esquecendo o tempo excessivo… chiça!, quantas horas ininterruptas serão bastantes para repetir uma ideia, a vossa ideia do que a informação deve ser?

 

Ontem durou a tarde e a noite, até às não sei quantas da madrugada. Foda-se! Que nojo: incessantes repetições do mesmo, tão igual ao Nada que por dentro vos corrompe e vos leva a corromper os outros. Esse chorudo salário compensa tamanho vazio que de vós ressoa?

 

Sei lá eu, metade, ou isso, já não daria para pagar os melhores colégios, universidades norte-americanas, o melhor futuro para a vossa descendência? Claro que daria e claro que, nisto, me esqueço da sempre actual vertigem do sucesso a qualquer preço. Sim, preconceitos morais, ainda e talvez sempre, fora de prazo.

 

Um detalhe não exactamente despiciendo: na minha juventude, as fichas técnicas no final de cada programa apenas registavam o autor e demais responsáveis por cada programa televisivo. No último par de décadas, na ficha técnica de todos surge a hierarquia: director de programas, de informação, ou o que for, o secretário e o jardineiro da direcção, só depois seguida dos serviçais autores de cada um. Apenas um sinal da crescente subserviência dos autores diante das chefias da “sua redacção”?

 

Diante disso? Sim, talvez a maior parte dos espectadores não perca tempo com a noção de como a informação actual é produzida, versus um crescente número de pessoas que pressente já não valer a pena acreditar em vós, gente paga para des/in/formar, rendidos à bosta informativa que nos vendem, só para garantirem um salário mensal. Sim, no Ocidente, na metade Norte do planeta, mas não só, parecendo que não, este é um processo crescente.

 

Por esse vosso caminho, desprezíveis decisores da consciência mais colectiva, isto, qualquer dia, vai acabar outra vez bem mal: em Trump’s e Le Pen’s, ou gente ainda pior, a leste e a oeste, ocidentais e orientais, falos de um costume, história antiga, merecedora da etiqueta "fora do prazo de validade". Tentem cruzar o cinismo imanente dos "factos" e a pura sensatez herdada da maior parte das vossas mães. Quem vencerá esse desafio? Bom, cada um decidirá por si.

 

Após esta, por demais evidente bosta, a que chamam "real", mesmo que só "informativo", que quase todos temos contribuído para criar ou permitir, e os milhões que, receio, irão ser sacrificados em prol dessa irresponsabilidade, uma boa parte de nós vai voltar a ganhar juízo.

 

A pior parte de nós, durante algum tempo sempre curto, diante de horrores demasiado próximos, contém-se e até aplaude “bondades colectivas” (o pós-2ª guerra mundial, o "estado-providência", a compaixão pelos mais desprotegidos, etc.). Balelas, sei-o bem, ou quase. Logo que a sempre parca memória permita este jogo tristemente animal, entre presa e predador, entre bem-sucedidos (?) e fracassados (?), vai sempre voltar. Lamento, mas vai (a maior de nós não passa de irregulares filhos da... esquecidos da mãe/Mãe que tiveram a sorte de ter).

 

Mais não resta senão esperar ou, melhor, fazer por isso, para que, entre cada salto e recuo desta animal história, algo persista para além desse pior de todos nós.

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Ei!, os dinossauros já se foram há meia dúzia de milhões de anos (post-meteoro, de um lampião apagado, para jurássicos machados, octávios do carvalho brunos e qualquer "ai-jesus" de ocasião, ainda reclusos de semânticas fora de prazo)

por JQ, em 16.05.16

"It's not where where you start, it's where you're finish", The Muppet Show (so long time ago, aind yet so close...:)

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- Maio, p.f., um pouco mais de sol, pode ser?

por JQ, em 08.05.16

All at sea again now

My hurricanes have brought down

This ocean rain to bathe me again

My ship's a sail can you hear

Its tender frame screaming

From beneath the waves

All hands on deck at dawn

Sailing to sadder shores

Your port in my heavy storms

Harbours the blackest thoughts

 

Ian McCulloch

 

 

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Carcavelos_Maio-2016-2.jpg

 Carcavelos_Maio-2016-4.jpg

 S. Julião da Barra, Maio 2016 + Ocean Rain, Echo & The Bunnymen, em 2001

 

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Um tédio antigo

por JQ, em 08.05.16

Passeava na borrasca de guarda-chuva. Sem prestar grande atenção, fui perdendo o pé, as pernas, o tronco e os membros superiores. A cabeça há muito que não dava notícias. Enfim livre, o guarda-chuva, com o vento, levantou voo e continuou a passear lá por cima, onde tudo é tão belo e aborrecido.

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Alguns riscos


Indícios?, por demais

um tremendo cansaço

de coisas feias, e daí

sons, diversos traços

caracteres alguns

de um rasto só


Algum tempo:


2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho


Junho 2006/Junho 2012

(arquivos não acessíveis

via Google Chrome)


Algumas pessoas:


T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida


Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:


Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.


Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !


joseqcarvalho@sapo.pt


Alguns nomes:


José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov


Outros nomes:


Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman


Algum som & imagem:


Avec élégance

Crazy clown time

Danse infernale

Dark waters

Der himmel über berlin

Forever dolphin love

For Nam June Paik

Gridlocks

Happy ending

Lilac Wine

L'heure exquise

LoopLoop

Materials

Megalomania

Metachaos

Nascent

Orphée

Sailing days

Soliloquy about...

Solipsist

Sorry, I'm late

Submerged

Surface

Their Lullaby

The raw shark texts

Urban abstract

Unter