Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Nils Frahm / Ólafur Arnalds / Nils Frahm + Ólafur Arnalds
Liebestraum, em "3 Nocturnos" de Franz Lizt - Fabio Martino, em 2014
La chair est triste, hélas! et j'ai lu tous les livres.
Fuir! là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres
D'être parmi l'écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retiendra ce coeur qui dans la mer se trempe
Ô nuits! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend,
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai! Steamer balançant ta mâture,
Lève l'ancre pour une exotique nature!
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l'adieu suprême des mouchoirs!
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages,
Sont-ils de ceux qu’un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots…
Mais, ô mon coeur, entends le chant des matelots!
Brise Marine – Stéphane Mallarmé (1865)
And I want to see lights
Driving in your car
Oh please don't drop me home
'Cause I haven't got one anymore
Take me out tonight
Oh take me anywhere
I don't care, I don't care
Vila do Conde, Agosto 2016 + There's a light that never goes out - The Smiths (1986)
Hesito. Talvez devesse antes divagar sobre José António Saraiva, Jorge Jesus ou pokemons que tais, mas a passagem do Tempo foi-me roubando a pachorra para tão pouco. Há alguns anos, Simon Amstell, um dos mais inteligentes comediantes britânicos, parodiava a contemporaneidade, “jurando” que, em face de qualquer problema de qualquer género, já não questionava médicos nem amigos, pois agora existe o Google...
Decido. Desafortunadamente, um ócio excessivo e o natural cansaço com a “realidade” mediática têm-me levado a perguntar ao Google (quase sempre na linguagem do império actual, lamento) por coisas inefáveis, p. ex., “Nuvens de Magalhães”, “galáxias gémeas semelhantes aos nossos rins”, "o universo conhecido não passa de um intestino grosso?" e, para mim mais importante, “espectro visível” e “para onde vai a luz quando se extingue?”:
excerto de «Poole's Paradise», John Vorhaus (2014)
Soliloquy about wonderland (excerto de momentos da «Vortice Dance Company», uma deveras inspirada "companhia de dança lusitana")
Para mim, pelo menos, enquanto blogger horrivelmente ortodoxo, falta-me aqui um post que sirva de ponte entre a música-palavra-imagem dos anteriores com a música-palavra-imagem dos seguintes. Para mim, pelo menos, enquanto blogger horrivelmente ortodoxo, isso dói-me, mas, para além dessa dor, finjo não querer saber de tal coisa. Basta que, para mim, este berloque, entre a diversidade de posts, continue a sequenciar sentidos e ideias im/possíveis, na revessa da noção de derrota implícita na caótico-mediática noite contemporânea. Alguma dança, alguma harmonia, porém, entre o ruído parece sobreviver.
Parece que existem muitas pessoas que simplesmente
procuram uma única resposta, seja ela qual for, assim
evitando o fardo de manter, em simultâneo na sua mente,
duas hipóteses que aparentam excluir-se mutuamente.
Carl Sagan, “Brocas’s Brain”, 1979
Sobreviver sob dois sistemas de valores (um para mim, talvez demasiado exigente; outro para o mundo, talvez demasiado condescendente) não tem sido exactamente fácil. Certo me parece que se lhes trocasse as voltas (comigo mais condescendente e mais exigente com o mundo), o resultado seria bem pior: andaria por aí às cabeçadas em muros de lamentações ou a lamber monitores com imagens de mim mesmo, i.e., um inferno misto de selfies e agressões ao próximo. Atalhando: quem optar por lamúrias que se lamente; quem escolher dançar que se divirta. Há muito que desisti de transformar o mundo. Por vezes, sinto que desejei de menos, outras por demais, nunca próximo da certa medida. Um poucochinho, até agradeço, para driblar o tédio, mas, por agora, peço apenas que ninguém me perturbe demasiado o sono, sonhos, enfim, o meu descanso. Pode ser? Eternamente grato.
David Mitchell, comediante britânico, em 3 gifs de autoria anónima + Don´t Feel Like
Dancing - Scissor Sisters (2006)
Don't feel like dancing
No Sir, no dancing today
Scissor Sisters
Então Miriam, a profetisa, irmã de Abraão, pegou num tamborim e todas as mulheres a seguiram, tocando tamborins e dançando. (Êxodo 15:20)
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa; vesti-o e ponham-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; trazei o bezerro cevado e matai-o; comamos e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. (Lucas 15:21-25)
Quando Jefté chegou à sua casa em Mispá, sua filha saiu ao seu encontro, dançando ao som de tamborins. E ela era filha única. Ele não tinha outro filho ou filha. (Juízes 11:34)
David dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e David estava [apenas] cingido dum éfode [+/- = avental] de linho. (Samuel 6:14)
Ouve, Senhor, e tem piedade de mim; ajuda-me. Tornaste em dança o meu pranto; desataste o meu pano de saco e me cingiste de alegria, para que a minha glória a ti cante louvores e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:10-12)
Louvem o Seu nome com danças; ofereçam-Lhe música com tamborim e harpa. (Salmos 149:3)
Ainda te edificarei e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus tamboris e te soltarás nas danças dos que se alegram. (Jeremias 31:4)
Ao contrário do que pensam alguns católicos mais austeros, e daí mais... obnóxios (já para não referir os mais puritanos calvinistas), a Bíblia não condena exactamente danças e folguedos. Defronte de alguns exemplos supra, parece achá-los naturais. Mais abaixo, Nietzsche até os promove. Suponho que toda essa gente há muito ida, que valorizava a diversão, nunca imaginou os actuais concursos de talentos, a MTV, a VH1 e tantos outros arautos do horror de clipes musicais contemporâneos, em que parece obrigatório dançar o pior possível. Sim, a semente terá sido lançada por James Brown, no seu jeito mais natural, foi regada depois por Michael Jackson, aí mais estilizada mas ainda com talento, para acabar na planta podre da actualidade pop e hip-hop.
Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantos e tempo de dançar. (Eclesiastes 3:1-4)
Sim, já a tive, mas, nos últimos anos, perdi qualquer vontade de dançar.
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: