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Sobre o Presente (é mais ou menos isto que pensando vou)

por JQ, em 09.12.15

Uma qualquer educação/religião demasiado rigorosa costuma produzir vítimas, que vão desde uma choraminguice sem apelo (só agravo) a um vago senso de autodepreciação. Este último precisa, desde que não demasiado óbvio, de algum humor subjacente. Para não contaminar este post com demasiada etnicidade, abstenho-me de nomear herdeiros (são tantos) da cultura d’O Livro.

 

Católicos?, quase nunca (cambada de lamechas e hipócritas… eventuais pecadores durante a semana, “redimidos” na dominical confissão diante de um badocha qualquer, que, no meu caso, questionava putos pré-púberes sobre pecaminosas fantasias com mulheres… urgh!... afortunadamente para todos, essa coisa já não é bem assim). Oh, a culpa (como se, então e agora, eu precisasse da alheia...)

 

Calvinistas, judeus-novos, ainda arcaicos ou apenas derivados contemporâneos (são tantos) têm-no, mas adorava conhecer algumas vítimas do Islão mais ortodoxo (decerto que existem, mas desconheço-os) capazes do mínimo humor, de algum senso auto-crítico, da mais saudável, não-choramingas, auto-depreciação.

 

Bom, o meu trabalho actual obriga-me a cruzar-me com demasiados humanos destituídos não só de graça, mas, sobretudo, da Graça, indiferentes diante da menor noção de culpa ou compaixão. Até eu, “por inteiro” agnóstico, mudo lamento-me de convivência tão triste, pois na maior parte deles só consigo entrever egos famintos de babilónica Fama, que nenhuma divindade, actual ou arcaica (talvez nem um imenso Multiverso), conseguiria contentar.

 

Resumindo, é isto: sobrevivo quase moicano.

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De Miguel Barcelos a 24.12.2015 às 20:03

Conheci alguns maometanos nas circunstâncias que descreves: bem-humorados, com sentido crítico, etc., apesar de praticantes. Boa gente, foram bons amigos. Espero que estejam bem depois do regresso a Bagdade, há um par de anos atrás.
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De JQ a 04.01.2016 às 16:11

Decerto que os há e ainda bem que já conheceste alguns. Eu é que os desconheço. No post, não especifiquei o bastante e generalizei, associando a falta de humor a todos os fundamentalistas de qualquer credo. Deveria ter referido apenas os bombistas e os que decapitam "infiéis" (incluindo os que ordenam que drones, para eliminar um terrorista qualquer, desprezam danos colaterais, i.e., civis incocentes).
Enfim, gente doida (ou endoidecida pelos crimes que as potências ocidentais têm cometido por aquelas bandas), que, imagino, terá efectuado uma leitura demasiado literal e incompleta dos Livros que regem o seu credo, esquecendo que na base deles reside o principal fundamento de sermos um pouco mais do que animais: a tolerância. 
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De Miguel Barcelos a 04.01.2016 às 16:42

Não conheço o Alcorão, nunca o li. Melhor: o que conheço do Alcorão são apenas generalidades, algumas passagens avulsas, etc. Posso concordar que na base dos livros sagrados das religiões está, entre outras coisas, o principal fundamento de sermos mais do que os animais; no entanto, não creio que esse fundamento seja a tolerância. Na religião cristã o que nos dá esse mais é o facto de sermos criados de um modo distinto (muito especial) dos outros seres criados e de, por conseguinte, nos serem dadas faculdades, dignidade e valor superiores aos da restante criação. Para além de um privilégio, isso é uma responsabilidade. No que concerne às leituras deficitárias dos livros, não posso dizer muito com relação ao Alcorão. No caso da Bíblia, o sentimento que deve permear todas as acções e palavras é o amor. Numa leitura integral do texto sagrado, a capacidade para amar, ou o amor, não é produzida por nós, mas é-nos dada por Deus, porque, como diz S. João, amamos porque Deus nos amou primeiro. Isto, aliás, obedece às regras da lógica, porque ninguém pode dar de si o que não tem. 
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De Miguel Barcelos a 04.01.2016 às 16:50

Também achei interessante que no teu post não te consegues livrar da utilidade da culpa: se de um lado é sobre-enfatizada ou abusada, de outro é  menosprezada. No primeiro caso não se encontra alívio para a consciência depois de um fracasso moral, se a Graça não é anunciada. No segundo, toma-se a Graça em vão e persiste-se sem pejo no erro contra o próximo. Neste caso, reconheces algum benefício à culpa, creio que porque só com alguma noção de culpa se consegue uma mudança.
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De JQ a 07.01.2016 às 19:16

Caríssimo, no teu recente par de comentários encontrei meia dúzia de afirmações com as quais só posso concordar. Também encontrei outra meia dúzia de que, por instinto ou experiência, só me apetece rebater. Sempre grato por teres levantado questões para mim tão profundas, aceita p.f. um envergonhado pedido de desculpa por não responder agora. As tuas questões/certezas exigem de mim respostas não-básicas, mas tenho trabalhado demasiado, chegado a casa apenas no desejo de algum descanso. Tenho dormido, preciso dormir [quando acordar, fica certo de que vou (re)bater alguns dos teus argumentos... :]  
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De JQ a 17.01.2016 às 16:29

No entre-parêntesis do post consta apenas um desabafo contra a quase inutilidade de alguém, seja quem for, me fazer sentir culpado seja do que for (pois, antes de outrem, já eu me flagelei, quantas vezes demasiado, por coisas que deveria ter feito melhor).


P. ex., é por isso que, demasiado frequentemente, um ou dois dias após ter publicado um ou outro post, volto ao blog, penso: “Quem raio publicou esta bosta?!”. Em onze anos de bloga, já eliminei demasiados, sei-o bem. Será também por isso que costumo entender quase instintivamente quem foi educado e cresceu num meio religiosa e/ou moralmente muito rigoroso.


Talvez poucos reparem que essa “gaveta” de pessoas tem por hábito utilizar muitos “mas”, “contudos”, “todavias”, “nos entantos”, “por outros lados” e a minha preferida “pese embora…”. Sim, “os emboras pesam pa’carago”, mas, só mais um “mas”,  essa não foi bem a razão para “as minhas cruéis adversativas”:


Até por ter chumbado na catequese (naquele tempo esse disparate era possível:), com 7-8 anitos e actualmente, visto ainda ser incapaz de ler o Antigo Testamento literalmente, acho que uma noção exagerada de culpa talvez possa dever-se a ter sido criado por um par de pessimistas do piorio. A sério, podem existir, mas não conheço um casal de pais que sejam ambos assim tanto; geralmente, na educação dos filhos, um/a deles  vai-se definindo por contraste com o/a outro/a. Azar o meu?

Mais importante do que o meu umbigo, regressando ao teu comentário: claro que uma noção de culpa, desde que não esticada ao cilício do exagero, também contribuiu para sermos um pouco mais do que animais.

Em jeito de post scriptum?: nem sempre isto resulta (quase nunca), mas recuso-me a fazer parte de uma cadeia alimentar, de uma pirâmide de poderes, cuja principal lógica é evitar ser comido pelo predador acima e continuar comer o predador abaixo.

Acredites ou não, os pre(con)ceitos religiosos em que acreditas ajudaram-me a pensar assim.

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De Miguel Barcelos a 10.03.2016 às 06:26

Eu tive uma educação religiosa. Não sei ao pé da tua onde se posiciona ou a que distância. Os meios em que crescemos são diferentes. Também cresci sabendo o que é sentir culpa. Também, para além disso, cresci sabendo o que é sentir alívio (depois) da culpa, i.e., a retirada da culpa. A vida cristã passa-se continuamente entre estes dois estados: culpa e remissão da culpa. Há pessoas que nos ensinam isto e há pessoas que não nos ensinam isto. Mais, há tradições cristãs que ensinam isto e há tradições cristãs que não ensinam isto. À remissão da culpa se chama Graça, aquilo que consideras muitas pessoas serem desprovidas de. E de facto são. Nadas e criadas numa tradição que inflige a penitência sem qualquer certeza ou vislumbre do perdão gratuito, i.e., da Graça, não a entrevêem. Nadas e criadas fora, ou por vontade própria excluídas, de uma tradição cristã, talvez nunca dela ouviram falar. Nem sempre precisamos que nos apontem a culpa. Todos temos uma consciência do bem e do mal que nos é inata, mas, sejamos francos, é rarefeita. Uma maior consciência se adquire com educação, cultura de um certo tipo. Outra, mais aperfeiçoada, embora não perfeita (porque não somos capazes da perfeição), se adquire através da revelação bíblica, posto que alguém lhe acredite. Claro que conseguimos ser inquisidores de nós mesmos e os nossos mais severos juízes, porventura maiores do que os que sofreram com os nossos lapsos. Percebo, num certo sentido, que digas que não precisas que ninguém te faça sentir culpado, porque já de ti o fazes, mas só nesse sentido. Eu também frequentemente me recrimino que dava para muitos. Provavelmente eu e tu somos pessoas muito exigentes connosco próprias. A maior diferença entre nós talvez seja que fui ensinado que se me arrependo depois de um lapso moral sou perdoado. A lei inscrita no meu coração e revelada na Bíblia de forma clara destrói-me, mata-me, mas logo depois e Evangelho me resgata, salva, ressuscita porque me diz que Jesus já pagou o preço por todos os meus pecados. Quando arrependido recebo absolvição, a culpa é-me retirada dos ombros e sou libertado, posto de acordo com Deus. Por isso, em vários sentidos considero que é benéfico que alguma coisa me diga que errei, a consciência, uma pessoa, a lei divina. Não que uma pessoa tenha o direito de se tornar meu juiz, que não tem, pois tanto ela precisa de redenção quanto, mas ela pode fazer-me lembrar de que preciso de redenção, a qual está ganha e é entregue a cada um que tem fé. E a fé, como os antigos bem formularam, existe no arrependimento. Isto não quer dizer que é um produto dele, apenas quer dizer que quem não se arrepende coloca impedimento à ou extingue a fé. Tendo dito isto, e voltando à questão, pessoas podem estar erradas quando nos chamam à atenção, mas também podem estar certas. No caso dos crentes, eles reconhecem que perante a lei divina eles falham e, por conseguinte, essas falhas dizem ou mostram que somos culpados delas. A meu ver, neste caso não há por que dizer "nada nem ninguém me pode dizer...". Pelo contrário, a lei divina como espelho tem a função positiva de nos mostrar o que somos com as nossas falhas para que reconheçamos a necessidade de redenção e sejamos encaminhados para o redentor.    

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Alguns riscos


Indícios?, por demais

um tremendo cansaço

de coisas feias, e daí

sons, diversos traços

caracteres alguns

de um rasto só


Algum tempo:


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Junho 2006/Junho 2012

(arquivos não acessíveis

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T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida


Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:


Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.


Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !


joseqcarvalho@sapo.pt


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