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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Uma qualquer educação/religião demasiado rigorosa costuma produzir vítimas, que vão desde uma choraminguice sem apelo (só agravo) a um vago senso de autodepreciação. Este último precisa, desde que não demasiado óbvio, de algum humor subjacente. Para não contaminar este post com demasiada etnicidade, abstenho-me de nomear herdeiros (são tantos) da cultura d’O Livro.
Católicos?, quase nunca (cambada de lamechas e hipócritas… eventuais pecadores durante a semana, “redimidos” na dominical confissão diante de um badocha qualquer, que, no meu caso, questionava putos pré-púberes sobre pecaminosas fantasias com mulheres… urgh!... afortunadamente para todos, essa coisa já não é bem assim). Oh, a culpa (como se, então e agora, eu precisasse da alheia...)
Calvinistas, judeus-novos, ainda arcaicos ou apenas derivados contemporâneos (são tantos) têm-no, mas adorava conhecer algumas vítimas do Islão mais ortodoxo (decerto que existem, mas desconheço-os) capazes do mínimo humor, de algum senso auto-crítico, da mais saudável, não-choramingas, auto-depreciação.
Bom, o meu trabalho actual obriga-me a cruzar-me com demasiados humanos destituídos não só de graça, mas, sobretudo, da Graça, indiferentes diante da menor noção de culpa ou compaixão. Até eu, “por inteiro” agnóstico, mudo lamento-me de convivência tão triste, pois na maior parte deles só consigo entrever egos famintos de babilónica Fama, que nenhuma divindade, actual ou arcaica (talvez nem um imenso Multiverso), conseguiria contentar.
Resumindo, é isto: sobrevivo quase moicano.
No entre-parêntesis do post consta apenas um desabafo contra a quase inutilidade de alguém, seja quem for, me fazer sentir culpado seja do que for (pois, antes de outrem, já eu me flagelei, quantas vezes demasiado, por coisas que deveria ter feito melhor).
P. ex., é por isso que, demasiado frequentemente, um ou dois dias após ter publicado um ou outro post, volto ao blog, penso: “Quem raio publicou esta bosta?!”. Em onze anos de bloga, já eliminei demasiados, sei-o bem. Será também por isso que costumo entender quase instintivamente quem foi educado e cresceu num meio religiosa e/ou moralmente muito rigoroso.
Talvez poucos reparem que essa “gaveta” de pessoas tem por hábito utilizar muitos “mas”, “contudos”, “todavias”, “nos entantos”, “por outros lados” e a minha preferida “pese embora…”. Sim, “os emboras pesam pa’carago”, mas, só mais um “mas”, essa não foi bem a razão para “as minhas cruéis adversativas”:
Até por ter chumbado na catequese (naquele tempo esse disparate era possível:), com 7-8 anitos e actualmente, visto ainda ser incapaz de ler o Antigo Testamento literalmente, acho que uma noção exagerada de culpa talvez possa dever-se a ter sido criado por um par de pessimistas do piorio. A sério, podem existir, mas não conheço um casal de pais que sejam ambos assim tanto; geralmente, na educação dos filhos, um/a deles vai-se definindo por contraste com o/a outro/a. Azar o meu?
Mais importante do que o meu umbigo, regressando ao teu comentário: claro que uma noção de culpa, desde que não esticada ao cilício do exagero, também contribuiu para sermos um pouco mais do que animais.
Em jeito de post scriptum?: nem sempre isto resulta (quase nunca), mas recuso-me a fazer parte de uma cadeia alimentar, de uma pirâmide de poderes, cuja principal lógica é evitar ser comido pelo predador acima e continuar comer o predador abaixo.
Acredites ou não, os pre(con)ceitos religiosos em que acreditas ajudaram-me a pensar assim.
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
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Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
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