Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
Ardente, morna, a tarde que calcina,
como em quadrante a sombra que descora,
morre − baixo relevo que domina −
como um sol que sobre saibros se demora.
Inunda a terra a vaga de ouro: fina
chuva de sonho. Paira, ao longe, e chora
o olhar errado ao sol que já declina
sobre as palmeiras que o deserto implora.
A um zodíaco de fogo a tarde abrasa,
em terra de varão que o olhar esmalta.
− Estagnante plaino de ouro e rosas – vaza
nele a sombra, sem dor, que em nós começa
e galga, sobe, monta e vive e exalta.
E a noite, a grande noite, recomeça !
Luís de Montalvor
The night they drove old Dixie down, The Band, 1976 ("The Last Waltz", excerto - Martin Scorcese, 1978)
Há duas espécies de poetas — os que pensam o que sentem, e os que sentem o que pensam. A terceira espécie apenas pensa ou sente, e não escreve versos, sendo por isso que não existe. Aos poetas que pensam o que sentem chamamos românticos; aos poetas que sentem o que pensam chamamos clássicos. A definição inversa é igualmente aceitável.
Em Luís de Montalvor (Luís da Silva Ramos), autor de um livro de POEMAS a aparecer em breve, a sensibilidade confunde-se com a inteligência — como em Mallarmé, porém diferentemente — para formar uma terceira faculdade da alma, infiel às definições. Tanto podemos dizer que ele pensa o que sente, como que sente o que pensa. Realiza, como nenhum outro poeta vivo, nosso ou estranho, a harmonia entre o que a razão nega e o que a sensibilidade desconhece. O resultado — poemas subtis, irreais, quase todos admiráveis — pode confundir os que esperam encontrar na originalidade um velho conhecimento, e no imprevisto o que já sabiam. Mas para os que esperam o que nunca chega, e por isso o alcançam, a surpresa dos seus versos é a surpresa da própria inteligência em se encontrar sempre diferente de si mesma, e em verificar sempre de novo que cada homem é, em sua essência, um conceito do universo diferente de todos os outros. E como, visto que tudo é essencialmente subjectivo, um conceito do universo é ele mesmo o próprio universo, cada homem é essencialmente criador. Resta que saiba que o é, e que saiba mostrar que o sabe: é a essa expressão, quando profunda, a que chamamos poesia.
Não nos ilude Luís de Montalvor na expressão essencial dos seus versos: vive num mundo seu, como todos nós; mas vive com vida num mundo seu, ao passo que a maioria, em verso ou prosa, morre no universo que involuntariamente cria. Palavras estranhas, porém verdadeiras. Como poderiam ser verdadeiras se não fossem estranhas?
“Textos de Crítica e de Intervenção”, Fernando Pessoa, 1927 (Ática, 1980)
Péssimo, de quando em vez, me reconheço, claro, pois achando vou, no que não só a mim diz respeito, que a feliz ideia do livre arbítrio, esquecendo um esporádico nicho de liberdade com muitas aspas, não passa disso mesmo. No meu passado já não curto, conheci alguns detentores dessa ficção, claro, mas perderam-se algures: a maior parte porque não descobriu seguro mapa algum. Só, por isso, logo após consecutivos desastres, convirá manter aceso um fogo qualquer, nem que por uma só vez, de novo ou fora de moda, com um mínimo de aspas impossível, um nem que esporádico canto de singularidade.
excertos de "Into The Wild", Sean Penn, 2007 (música de Michael Brooks)
Dos nossos jardins mais interiores só devemos colher as rosas mais afastadas e as melhores horas e fixar só aquelas ocasiões do crepúsculo quando dói mais sentirmo-nos. O resto é só brisa que passa e não tem outro aroma senão o momento que rouba a imortalidade dos jardins.
"Uma incerta pessoa" numa carta, talvez de 1915 (publicada em 12/13.02.1955, no jornal carioca “Tribuna da Imprensa”; excerto transcrito em “Realidade e Ficção – para uma biografia epistolar de Fernando Pessoa”, Manuela Parreira da Silva, 2004)
Caso a maior parte de mim ou de vós, por hipótese obviamente absurda, quiçá envenenados por um pouco de qualquer Verdade cada vez mais minúscula, revelasse o que de minimamente autêntico em cada um permanecesse… convenhamos: talvez o Universo ruísse de pantanas, talvez no universo conhecido, na maior parte de mim e de vós, nenhum Buda, nenhum Cristo, nenhum Maomé, quase nenhuma boa Fé ou Moral minimamente dignas sobreviveriam. Daí tanto discurso barato, cinema e tv sem qualquer nocão de Pintura, tanto vácuo debate, tanta graçóla longe de qualquer Graça, tanta mentira em saldo, tanta gente "famosa" ou anónima, tão íntima ou apenas cúmplice do horror e da banal indecência de telejornais fora de prazo, né?
Se sentir quelque peu Romain
Mais au temps de la décadence
Gratter sa mémoire à deux mains
Ne plus parler qu´à son silence, et
Ne plus vouloir se faire aimer
Pour cause de trop peu d´importance
Être désespéré, mais avec élégance
Sentir la pente plus glissante
Qu´au temps où le corps était mince
Lire dans les yeux des ravissantes
Que cinquante ans, c´est la province, et
Brûler sa jeunesse mourante
Mais faire celui qui s´en dispense
Être désespéré, mais avec élégance
Sortir pour traverser des bars
Où l´on est chaque fois le plus vieux
Y éclabousser de pourboires
Quelques barmans silencieux, et
Grignoter des banalités
Avec des vieilles en puissance
Être désespéré, mais avec élégance
Savoir qu´on a toujours eu peur
Savoir son poids de lâcheté
Pouvoir se passer de bonheur
Savoir ne plus se pardonner, et
N´avoir plus grand-chose à rever
Mais écouter son cœur qui danse
Être désespéré, mais avec espérance
Jacques Brel
5:15, The Who, 1973 (+ excerto de "Quadrophenia", Franc Roddam, 1979)
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
2017 Janeiro 2016 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2015 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro ; 2014 Dezembro Novembro Outubro
Setembro Agosto Julho
Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
(arquivos não acessíveis
via Google Chrome)
Algumas pessoas:
T ; José Carvalho da Costa, Francisco Q ; Alcino V, Vitor P ; José Carlos T, Fernando C, Eduardo F ; Paulo V, "Suf", Zé Manel, Miguel D, S, Isabel, Nancy ; Zé T, Marcelo, Faria, Eliana ; Isabel ; Ana C ; Paula, Carlos, Luís, Pedro, Sofia, Pli ; Miguel B ; professores Manuel João, Rogério, Fátima Marinho, Carlos Reis, Isabel Almeida, Paula Morão, Ivo Castro, Rita Veloso, Diana Almeida
Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
José Afonso ; 13th Floor Elevators, The Monks, The Sonics, The Doors, Jimi Hendrix, The Stooges, Velvet Underground, Love / Arthur Lee, Pink Floyd (1967-1972), Can, Soft Machine, King Crimson, Roxy Music; Nick Drake, Lou Reed, John Cale, Neil Young, Joni Mitchell, Led Zeppelin, Frank Zappa ; Lincoln Chase, Curtis Mayfield, Sly & The Family Stone ; The Clash, Joy Division, The Fall, Echo & The Bunnymen ; Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, The Gun Club, Sonic Youth, Pixies, Radiohead, Tindersticks, Divine Comedy, Cornelius, Portishead, Beirut, Yo La Tengo, The Magnetic Fields, Smog / Bill Callahan, Lambchop, Califone, My Brightest Diamond, Tuneyards ; Arthur Russell, David Sylvian, Brian Eno, Scott Walker, Tom Zé, Nick Cave ; The Lounge Lizards / John Lurie, Blurt / Ted Milton, Bill Evans, Chet Baker, John Coltrane, Jimmy Smith ; Linton Kwesi Johnson, Lee "Scratch" Perry ; Jacques Brel, Tom Waits, Amália Rodrigues ; Nils Frahm, Peter Broderick, Greg Haines, Hauschka ; Franz Schubert, Franz Liszt, Eric Satie, Igor Stravinsky, György Ligeti ; Boris Berezovsky, Gina Bachauer, Ivo Pogorelich, Jascha Heifetz, David Oistrakh, Daniil Trifonov
Agustina Bessa Luís, Anna Akhmatova, António Franco Alexandre, Armando Silva Carvalho, Bob Dylan, Boris Vian, Carl Sagan, Cole Porter, Daniil Kharms, Evgeni Evtuchenko, Fernando Pessoa, George Steiner, Gonçalo M. Tavares, Guy Debord, Hans Magnus Enzensberger, Harold Bloom, Heiner Müller, João MIguel Fernandes Jorge, John Mateer, John McDowell, Jorge de Sena, José Afonso, Jürgen Habermas, Kevin Davies, Kurt Vonnegut Jr., Lêdo Ivo, Leonard Cohen, Luís de Camões, Luís Quintais, Marcel Proust, Marina Tzvietaieva, Mário Cesariny, Noam Chomsky, Ossip Mandelstam, Ray Brassier, Raymond Williams, Roland Barthes, Sá de Miranda, Safo, Sergei Yessinin, Shakespeare, Sofia M. B. Andresen, Ted Benton, Vitorino Nemésio, Vladimir Maiakovski, Wallace Stevens, Walter Benjamin, W.H. Auden, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Zygmunt Bauman
Algum som & imagem: