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Cidadão português e, daí, cidadão do Mundo: Mário Alberto Nobre Lopes Soares

por JQ, em 11.01.17

Há décadas a responsabilidade pelas páginas de Necrologia dos jornais costumava caber aos estagiários ou aos mais inaptos para notícias de maior fôlego. Desde que me lembro de mim, sempre escapei, até com gripes encenadas, a funerais, alusões e conversas sobre a Morte e seus derivados. Contradição: ainda me fustigo ao distinguir em mim uma espécie de preferência por autores já defuntos. As minhas francas desculpas pela minha distracção/ignorância a quem ainda subvive, tentando renovar sons, imagens, palavras e ideias por aí fora, quando se segue mais um exercício necrológico:

 

Nunca votei em Soares nem no P.S., nem sequer na minha cidadezinha, de onde precisei sair para me aperceber de que, comparativamente a outras cidadezinhas com autarcas mais “imediatos”, o resultado foi bem melhor. Nas presidenciais de 1986, quando os meus pais foram votar "útil" em Soares, disse-lhes: "Não vou votar. Não confio em nenhum deles. Vocês, que até são mais portugueses do que eu, não conhecem os portugueses. Soares vai ganhar". Acertei por pouco...

 

Com o tempo, fui-me adaptando à certeza crescente de que a humanidade é diversa quanto baste para que sistemas de partido único não funcionem. Basta atentar nalguns sinais-ideias difundidos, p. ex., pelos governos da Hungria, da República Checa, da Polónia e de quase todos os governos bálticos para reparar que após tanta boca calada pelo medo e prateleiras vazias só poderia resultar uma deriva popular tipicamente da Direita mais idiota. Sim, se décadas sob partidos únicos, passivos afilhados de Moscovo, em que só o Ensino e a Saúde eram excepção, tivessem resultado, os votantes de Leste não seriam agora tão reaccionários.

 

Não funcionaram, a sério que não, e Soares ter-se-á apercebido disso antes de muitos (de mim também). Durante a minha infância, adolescência e juventude não me foram nada simpáticos os seus ziguezagues. Soavam-me àquela treta, ainda contemporânea, de tantos que, entre lugares-comuns, banalidades e contradições iam/vão repetindo as conveniências do momento. Uma atenuante em Soares: encostou-se aos norte-americanos, ao FMI e à alta finança, quando receou que aqui se instalasse um regime de partido único; acabou por debitar opiniões contra a corrente predominante, por vezes até mais radicais do que as do Bloco ou do PC, ao reparar na selvajaria neoliberal das últimas décadas.

 

Custou-me entendê-lo. O pragmatismo só profissionalmente é para mim um valor quase absoluto (contas por pagar, tecto e comida por assegurar... enfim, questões da mais básica sobrevivência). Mantenho, por natureza edipiana, alguma desconfiança em gente sempre bem-disposta, que parece sentir-se bem entre multidões. Ainda valorizo, como não?, a simpatia e a boa educação, mas não me bastam. Preciso acreditar nelas, pressenti-las sub-cutâneas.

 

Sem nunca ter conhecido mais do que a sua presença mediática, suspeito há anos que Soares terá tentado ser autêntico consigo próprio. Bastou-me isso para este exercício necrológico. Dêem-lhe um longo desconto por ser humano (até terá contribuído para que os últimos anos de Luiz Pacheco fossem menos desconfortáveis). Oh, quem me dera poder ser um pouco mais empático, um pouco mais comunicativo! Eu bem que gostava, mas não consigo. Enfim, guardem-me alguma condescendência por raramente conseguir ser tão Português quanto ele.

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Alguns riscos


Indícios?, por demais

um tremendo cansaço

de coisas feias, e daí

sons, diversos traços

caracteres alguns

de um rasto só


Algum tempo:


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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:


Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.


Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !


joseqcarvalho@sapo.pt


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