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[ sons, imagens e palavras nada recomendáveis, deveras pouco legíveis em telemóveis "inteligentes" ]
A quem, na revessa dessa fortuna cada vez menos actual, teve o azar de não crescer entre as ervas de quintais, jardins e baldios não muito longínquos, talvez o seguinte soe algo bizarro…
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Costumo coçar cotovelos quando ouço alguém dizer que tem saudades da infância.
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Tão triste, como um filme bielorusso dos anos 60 do século passado, é sobreviver aos primeiros anos funcionando como um adulto, imaginando o último terço sem conseguir sê-lo.
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São raras as imagens que me restam dos primeiros anos. As mais nítidas foram registadas em manhãs plenas de sol.
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Numa dessas memórias, cada vez mais escassas, estou num quintal a cheirar terra húmida e a prová-la de seguida. Associada à imagem, no byte mesmo ao lado, ficou a impressão de ter apreciado o cheiro e não ter desgostado do sabor.
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Noutra, vou a caminhar ao longo do rio em direcção à praia. Visto uma blusa de felpo cor de laranja cansada e levo um balde azul com uma pá para brincar na areia.
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Perguntem às dunas: a areia é despicienda; entre algum deserto e o mais comum naufrágio familiar, quase tudo se assemelha e depende das águas, umas frescas e bravas, outras, por demasiado plácidas, estagnadas.
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Tantos anos passados, uma das exigências do meu penúltimo trabalho foi conseguir comunicar com acidentados no trabalho. Entre alguns modestos enganadores, um imenso lote de pessoas que tiveram mesmo muito azar.
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Entre elas, as que demonstraram maior dificuldade em ultrapassar essa situação foram aquelas que ficaram soterradas.
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Para além das lesões mais evidentes, não conseguiam esconder olhares inquietos, assustados, como bébés acabados de fugir de um útero demasiado estreito.
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De volta à infância, um pai dos meus, o mais biológico, decerto imbuído do melhor intento, acabou de naufragar os piores receios do seu filho mais jovem, virando o seu insuflado tapete “tulicreme”, com o objectivo de ensiná-lo a nadar…
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Água e sal. Um sufoco, trauma futuro? Bom, uma espécie de drama e uma bolacha demasiado doce para esquecer.
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Ei! Evite, quem puder, as mais velhas dúvidas. Eram tempos outros, em que quase nenhuma demonstração de afecto era exactamente ouvida, ou bem vista.
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Entre tão ínfima herança, qualquer juvenil vai crescendo, fazendo e dizendo o que for, ou nem isso, entre o mínimo e o máximo possíveis. Mas, se donos de alguma consciência do Tempo, perguntem-se:
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Se antes / durante / depois de nós, avós, pais, mães e adjacentes, gente que se sente minimamente contemporânea raramente foi / é / será capaz de motivar os seguintes para o porvir, o que raio velhotes como eu ainda fazem aqui?
Indícios?, por demais
um tremendo cansaço
de coisas feias, e daí
sons, diversos traços
caracteres alguns
de um rasto só
Algum tempo:
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Junho
Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro; 2012 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho
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Algumas pessoas:
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Outros que, no exacto antípoda dos anteriores, despertam o pior de mim:
Demasiados. Não cabem aqui. É tudo gente discursivamente feia. Acendendo a TV ou ouvindo quem fora dela reproduz agendas mediáticas, entre o vómito e o tédio a lista tornar-se-ia insuportavelmente longa.
Uma chave, mais um chavão? A cultura popular do início deste séc. XXI fede !
joseqcarvalho@sapo.pt
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